Aos poucos, vai baixando a poeira de um dos dias mais agitados da história da Fórmula 1. Com os ânimos um pouco mais acalmados, McLaren e Ferrari soltaram seus respectivos press-releases comentando o veredito do Conselho Mundial da FIA, que retirou os pontos da equipe inglesa no campeonato de construtores e aplicou uma multa de 100 milhões de dólares ao time prateado.
Contrariando as expectativas, a Ferrari declarou-se "satisfeita" com a decisão. Em seu comunicado, a equipe vermelha destacou o "interesse em preservar a imagem do esporte". Agora, a turma de Maranello já deve fechar a fatura do Mundial de Construtores nesse fim de semana, no G.P. da Bélgica. Basta manter a enorme vantagem de 57 pontos que os italianos têm sobre a BMW.
Por outro lado, a McLaren já avisou que vai recorrer da pena aplicada pelo Conselho Mundial. Logo após o término da reunião, Ron Dennis declarou-se "injustiçado" e colocou parte da culpa na imprensa, que, segundo ele, "condenou" a equipe inglesa. Mais longe ainda foi Norbert Haug, o principal dirigente da parceira Mercedes, que falou estar "chocado" com o veredito final dos dirigentes da FIA.
Como era de se esperar, a maioria absoluta dos especialistas discordou da punição. "Faltou coragem" e "saiu barato" foram algumas das opiniões que li por aí. Todas válidas e sinceras. Mas continuo com meu pensamento de que a decisão do Conselho Mundial foi muito acertarda. Num momento de profunda tensão, era preciso ser prático e inteligente. Os membros da FIA fizeram exatamente o que tinham de fazer.
Primeiro ponto: a quem interessava uma sanção pesada à McLaren? A Ferrari, principal acusadora, considerou o veredito do Conselho Mundial satisfatório. Por que, então, levar as coisas mais adiante? É simples assim. Nessas horas, público e imprensa não têm nenhuma importância.
Outra observação essencial: a McLaren não foi julgada pelo uso das informações da Ferrari. A punição que veio foi por conta da posse desse material. Até hoje - por mais que algumas evidências apontem na direção contrária - não foi provado que os ingleses se beneficiaram dos dados de seus rivais. Os dirigentes não iriam tomar uma decisão tão importante baseando-se apenas nessa suposição.
Há ainda duas fortes razões para a absolvição da McLaren. A Mercedes, parceira de longa data da equipe inglesa, é uma delas. Envolvida em todo o imbróglio sem culpa, seus interesses e sua história precisavam ser considerados pelos membros do Conselho Mundial. Não era fácil destruir, com uma canetada só, todo o investimento da fábrica alemã nos últimos treze anos.
Além disso, existe também um outro fator semelhante. O passado limpo da McLaren. Desde 1980 sob a direção de Ron Dennis, o time nunca teve seu nome ligado a nenhuma falcatrua. Parece um argumento fraco, mas não é. Duvido que o chefão da McLaren soubesse das atitudes de Mike Coughlan, o homem que recebeu de Nigel Stepney o dossiê com informações secretas da Ferrari.
Dennis tem um passado grande demais para arriscar-se só agora. Ele ainda comanda as ações da McLaren com mão de ferro, ao contrário do que muitos garantem. É por isso que acho, no mínimo, improvável que os dados da Ferrari tenham sido usados no modelo da equipe inglesa. O grande avanço da McLaren na atual temporada pode ser debitado, perfeitamente, ao excelente staff técnico do time.
Agora, leia e reflita sobre tudo isso aí de cima. Talvez, então, você consiga entender que a pergunta que os membros do Conselho Mundial da FIA julgaram hoje não foi "a McLaren é culpada ou inocente?". A verdadeira questão era outra: "vale a pena punir a equipe inglesa?".
Eu não vejo a situação pelo meu lado. A minha opinião - se o que a McLaren fez é certo ou errado - é completamente irrelevante. O necessário, aqui, é tentar observar a decisão pelo ponto de vista daqueles que comandam a Fórmula 1. E eles acertaram em cheio. Se eu fosse um dos membros do Conselho Mundial, teria feito exatamente o mesmo.
Os dirigentes conseguiram equilibrar todos os interesses em jogo e, de quebra, ainda permitiram que o ano siga com um dos campeonatos mais emocionantes dos últimos tempos. Punir os pilotos da McLaren poderia até ser mais justo (aliás, por favor, o que seria "mais justo"?). Mas criaria um situação insuportável: uma disputa judicial que poderia acabar com o Mundial desse ano.
Para os membros do Conselho Mundial, o que realmente valeu foi manter intacta a marca "Fórmula 1". Porque, no fim das contas, não há nada mais importante do que isso.
Pensam que acabou? Nada disso. Em breve, vem aí "Caso de Espionagem II - O retorno". Dessa vez, quem está em maus lençóis é a Renault, que está sendo acusada pela... McLaren! Incrível. A Fórmula 1 vai se superando a cada dia.
Ao que parece, o nome que está no olho do furacão é o de Phil Mackereth, ex-engenheiro da McLaren. Contratado pela Renault recentemente, ele levou para a equipe francesa três disquetes com informações ultra-secretas do time prateado.
Segunda a McLaren, que já levou o caso à FIA, a Renault aproveitou dados dos sistemas eletrônico e de freios do MP4/22, o polêmico modelo 2007 da equipe inglesa. Embora a acusação seja grave, a expectativa é de que nada aconteça com a atual campeã de pilotos e construtores.
"Ron Dennis está atirando para todos os lados", foi o que disse Flavio Briatore (à direita) na defesa de sua equipe. Um representante da FIA limitou-se a falar que a entidade "vai abrir processo se considerar as acusações fundamentadas". Tudo bem, vamos esperar para ver. Será que a Renault toma uma punição?
Duvido. Repito a pergunta lá de cima: a quem interessa?
Dario Franchitti (à esquerda), campeão da temporada desse ano da IRL, vai correr na Nascar em 2008. A informação é do site Grande Prêmio, que coloca o escocês como um dos companheiros de equipe de Juan Pablo Montoya na equipe Ganassi.
Ironicamente, Scott Dixon - que perdeu o título para Franchitti na última volta da última corrida ao ficar sem combustível - também é piloto da mesma equipe. O neo-zelandês, porém, deve continuar na IRL na próxima temporada.
Mesmo assim, a categoria já sofre com dois sérios desfalques no ano que vem. Além de Franchitti, o americano Sam Hornish Jr., tri-campeão da IRL, também está de saída para a Nascar. Cada vez mais, as corridas de monopostos vão perdendo importância nos Estados Unidos.
Bom para Franchitti, que agora vai para uma categoria mais segura e de muito maior visibilidade. Por outro lado, a mudança é péssima para a IRL. Após ameçar tornar-se uma competição tão grande quanto a antiga CART, a categoria vai se reduzindo a cada ano que passa.
A única solução, por mais que os dirigentes se recusem a tentar, é uma fusão com a ChampCar. Infelizmente, essa possibilidade á absolutamente nula no curto prazo.
O texto desse post foi alongado e limitou minha procura pelo vídeo do dia. Depois de toda a tensão dos últimos dias, fiquemos com um achado curtinho - apenas seis segundos - mas que vai render boas risadas:
Como se vê, até Michael Schumacher errava de vez em quando. Coitado do mecânico à frente do carro...
Nessa sexta, o Blog volta com a seção Agenda do Fim de Semana, repassando tudo o que vai acontecer de importante nos próximos três dias do calendário da velocidade. E, ao longo do dia, comentários sobre os treinos do G.P. da Bélgica e as demais atividades das categorias que entrarem na pista. Até amanhã!
Crédito das fotos:
Conselho Mundial (todas): http://www.motorsport.com/
Renault - http://www.motorsport.com/
Flavio Briatore - http://www.racing-f1.co.uk/
Dario Franchitti - http://www.indycar.com/
IRL - http://www.indycar.com/
11 comentários:
seu texto me fez pensar em coisas interessantes, é verdade. Eram muitos interesses por ali.. Mesmo assim, ainda acho que a punição tinha que ser mais forte. Não consigo engulir esta de que a Mclaren não usou nada da Ferrari.
são muitas coisas em jogo e sei disso tudo. Para mim, a decisão da FIA foi boa, até porque vamos continuar com o campeonato emocionante. Agora vamos ver o que acontece mas acho que dá Hamilton. Valeu!
melhor dar por encerrado e bola para frente... tomara que esse novo caso da renault não dê em muita coisa.
E vamos correr porque este papinho da FIA já cansou...
Quero ver é ultrapassagens e grandes pilotos!
Concordo contigo... a grande pergunta é se valia a pena punir a McLaren... ou seja... a justiça não é cega...
O conceito de Justiça Cega é que se faça a justiça sem que se olhe quem são os envolvidos... mas isso mais uma vez não aconteceu!!!
Coitado do mecânico da Ferrari devia ter-se aleijado.
Gustavo,
Diante de tudo isto, uma coisa não entra na minha cabeça. Pq a Ferrari se deu por satisfeita e não apelará da decisão? Pelo simples motivo do mundial de construtores ter caído em seu colo? Acho muito pouco... como dizem os antigos... "debaixo deste angú tem carne!"
o q vc acha?
Jean,
Acho que a Ferrari viu que iria comprometer seriamente a credibilidade da Fórmula 1 se insistisse numa punição mais pesada. O caso já causou um grande desgasta à categoria. A Ferrari ganhou no colo o Mundial de Construtores e a garantia de que o desenvolvimento do modelo 2008 da McLaren vai ficar comprometido. Alguns estão dizendo que 100 milhões é pouco, mas não é. A equipe inglesa terá sérias dificuldades para manter o nível no ano que vem.
Muito obrigado pela sua participação!
Grande abraço!
Cara, eu também tive aula de computação como você mas não pude postar pq pc de lá não permite internet. Bem que eu tentei...
Sobre o post, meu pensamento, como já esclareci, é exatamente esse. A FIA encontrou um meio termo, não foi dura demais nem muito leve, a solução saiu na medida certa.
abs
Amigo... vc dizer que a Mclaren não usou as informações da Ferrari é um tanto quanto absurdo. Veja os emails de Pedro de La Rosa, ele testou no simulador algumas coisinhas que só a Ferrari sabia. Quanto a Multa, na verdade não sera tudo isso, vão ser descontados os valores que a Mclaren teria direito e segundo eu vi no Terra o valor vai ficar na casa dos trinta.
Pantaneiro,
Não foi isso que eu disse. Falei apenas que a McLaren não foi julgada pelo uso, mas pela posse. Os e-mails do de la Rosa só foi divulgadoa após o meu texto e essa informação sobre a multa também.
Obrigado pela participação!
Grande abraço!
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