sábado, 1 de novembro de 2008
Diários de Interlagos - Dia 2
O sábado foi um dia estranho em São Paulo.
Começou bem frio, assim como estava na sexta.
De manhã, o céu amanheceu coberto de nuvens. Parecia que a chuva poderia ameaçar, mas não foi isso que ocorreu.
Em cerca de uns 30 minutos, o vento gelado deu lugar a um Sol de rachar.
E, nas arquibancadas descobertas, quem não levou protetor solar virou tomate.
No fim da tarde, já quase não havia mais nuvens no céu paulistano, mas os institutos de metereologia insistem que vai chover neste domingo.
Vá entender...
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O ambulante vem nos abordar num sinal de trânsito já próximo do autódromo de Interlagos:
- Vai um bonezinho aí, meu?
- Quanto é que tá?
- 25!
- 25?
- É, tá na promoção!
Olho para a frente, vejo que o sinal já está para abrir e espero alguns segundos. É essa a tática. Quando a luz verde estiver prestes a aparecer, o vendedor vai inevitavelmente diminuir o preço.
Mas eu não contava com a astúcia do motorista do táxi.
- 25? No semáforo ali atrás estava 10...
O vendedor olha sem graça, sem saber o que dizer. Abre a boca para falar alguma coisa e desiste. Pensa em argumentar, mas dá o braço a torcer:
- Então leva por 10 mesmo...
E assim, em três segundos, o boné que "tava em promoção" saiu por menos da metade do preço.
O motorista do táxi levou cinco reais de gorjeta quando chegamos ao autódromo. Ainda fiquei com dez reais de lucro.
E algum amigo meu vai ganhar um bonezinho da Ferrari achando que é de verdade.
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Os preços dos stands de Interlagos inflacionaram.
A garrafinha de água até que não está tão cara assim: R$3 é o preço dessa vez. Já teve ano que passou de R$4,50...
Mas é preciso chegar a Interlagos psicologicamente preparado para gastar bastante.
Uma simples pizza, daquelas que você compra em qualquer cantina de colégio, custa R$7. O hamburger chega a R$10.
Para piorar, as filas também vão ficando cada vez mais lentas e longas. A tática é chegar o mais cedo possível e comprar todos os tíquetes logo depois de marcar o lugar na arquibancada. Mais tarde, vai valer a pena. Principalmente para aqueles que gostam de uma cervejinha, de longe o item mais disputado entre os torcedores em Interlagos.
Neste ano, por algum estranho motivo, o número de stands encolheu. Toyota e Renault, que sempre marcavam presença atrás das arquibancadas do setor A, não apareceram.
Apenas Ferrari, McLaren e BMW estão por alí. Coincidência ou não, são as três primeiras equipes no campeonato.
O stand da BMW é simples, prático, e também o menos caro. As camisas são mais "convencionais", digamos assim.
Na Ferrari e na McLaren, porém, dá para sair vestido igual aos mecânicos da equipe.
No stand do time de Maranello, os preços são impressionantes. Veja só: uma jaqueta oficial, daquelas que os engenheiros da Ferrari usam durante o fim de semana das corridas, custa a bagatela de R$ 700.
O guarda-chuva da Ferrari não sai por menos de R$200.
Ainda assim, a loja da escuderia vermelha está sempre lotada.
Vale aquele ditado: se está na chuva, é para se molhar...
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A cena se passa na fila do caixa do stand de comidas e bebidas. São dez horas da manhã. Faltam quatro, portanto, para o início do treino classificatório. À minha frente, o sujeito vai fazer seu pedido.
- Moça, me vê sete cervejas.
- Só um momento, senhor.
- Não, espera aí, será que vai dar?
- Vai dar para o quê, senhor?
- Até a hora do treino. Será que sete cervejas "vai dá"?
- Depende. Quantas pessoas fazem parte do seu grupo?
- Uma...
E comprou sete tíquetes de cerveja para ele mesmo.
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A hora do treino vai chegando e o pessoal vai se animando.
Toda garota que passa na parte debaixo da arquibancada precisa agüentar um "fiu-fiu" coletivo dos marmanjos mais acima.
Se está acompanhada, o marido ou namorado sofre.
Gritos de "sócio" e "chifrudo" são os mais gentis. "Deixa ele aí e vem sentar aqui do meu lado, pô!", é o pedido que você mais ouve o tempo inteiro.
Tem gente de tudo o que é lugar.
Perto de mim, um grupo de Goiânia. Ali mais embaixo, vários mineiros com camisa do Cruzeiro. Tentaram colocar uma bandeira da "raposa" no alambrado, mas precisaram tirar depois que um grupo de gremistas gritou que ia dar confusão.
Do interior do São Paulo, vêm aos montes. O sotaque caipira não deixa mentir.
Aqueles mais animados resolvem organizar uma "ola" e quem não participa vira inimigo de estado.
Como assim, não participar da "ola"?
"Ô vi***, presta atenção que é a ola, car****!", é o mínimo que você ouve se estiver distraído na hora.
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Algumas impressões não necessariamente corretas sobre os treinos deste sábado:
- Massa tem uma pilotagem toda particular na curva do Laranjinha. Eledemora mais a começar a virar o volante. Faz a curva mais por fora, semtocar a zebra na segunda perna da curva, e mantém uma velocidadesuperior à dos adversários. Pelo visto, deu certo.
- Rubinho foi o único piloto que, em algum momento, travou os pneusao entrar nos boxes. O pit lane de Interlagos está no meio de umtrecho de pé embaixo. Quem conseguir frear no último instante sempassar o limite de velocidade leva uma pequena, mas considerávelvantagem. Foi isso que Rubinho tentou fazer, indo ao limite antes dereduzir a velocidade.
- Os pilotos da Honda eram os únicos que passavam marcha no ponto ondeeu estava. Quando isso acontece, o motor faz um leve barulho de"estouro". O que isso significa? Que o motor da Honda é provavelmente opior de todo o grid. Os demais pilotos, quando passavam à minha frente,já haviam chegado à sétima e última marcha. O carro da Honda demoramais. Ou seja: até atingir a velocidade máxima, Button e Rubinho vãoficando para trás.
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Foi uma pole sublime de Massa.
Se vai levar o título, não dá para saber. Mas o piloto está conquistando a torcida brasileira.
Neste sábado, o público nas arquibancadas de Interlagos acenava freneticamente a cada passagem de Felipe.
No ano passado, a festa também foi grande, mas não tão intensa.
Em Hamilton, pela primeira vez, deve ter batido um friozinho na barriga.
O título ainda não está nada garantido.
Palpites para amanhã?
Pois bem: Hamilton parecia tranqüilo para levar o título. Não está mais.
Ainda assim, continua com uma ampla vantagem sobre Massa.
Resta saber se vai conseguir controlar os instintos. Se evitar problemas na primeira volta e mantiver o carro na pista, dificilmente vai dexiar escapar o campeonato pelo segundo ano seguido.
Mas há a possibilidade de chuva, o risco de um safety car no momento errado e, é claro, a presença de 140.000 torcedores secando cada uma de suas manobras.
O inglês certamente não vai dormir muito sossegado nesta noite.
Diários de Interlagos - Dia 1
Faz frio em São Paulo.
Esta já é a minha nona aventura no Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1 e, com toda a sinceridade, não me lembro de nenhum outro ano em que as temperaturas tenham sido tão baixas.
O cenário é desfavorável para a Ferrari, que encontra notórias dificuldades para aquecer os pneus em condição de volta rápida.
Mas hoje, nos primeiros treinos livres para o GP Brasil, Massa deu uma demonstração de força e terminou como o dia segundo mais rápido.
Foi mais lento apenas do que Alonso, que deve ter corrido com a Renault no mínimo da gasolina.
Hamilton finalizou em quarto e deu a impressão de que não mostrou tudo do carro.
Segundo a previsão do tempo, nada indica que o panorama deve mudar até domingo. É bem provável, inclusive, que a chuva apareça na classificação deste sábado e também no dia do GP.
Em pista molhada, a vantagem é toda de Hamilton. Mas corridas com chuva são sempre imprevisíveis.
Talvez esteja aí a chance que Massa estava esperando...
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Mesmo fora do circuito, não dá para fugir da atmosfera do GP.
Os ambulantes já estão ali, a cada sinal de trânsito, com seus bonezinhos da Ferrari sendo vendidos a preços que variam mais do que a bolsa de valores.
Começa perto dos 25 reais e vai baixando à medida que o sinal fica perto de abrir. A tática é esperar um pouco e só pagar quando o carro da frente já está acelerando. Se você é pão-duro, é daquelas economias bobas que dão uma sensação de felicidade genuína.
A tal lei da "Cidade-Limpa" eliminou os diversos outdoors que se espalhavam na época da corrida, com piadinhas de duplo sentido de várias casas noturnas. Sempre havia o velho trocadilho do tipo "Venha pilotar aqui também", mas agora isso terminou.
Apesar disso, o GP Brasil está em todo lugar.
Nos hotéis, pelo menos nove em cada dez hóspedes vieram só para a corrida.
Nos restaurantes, é só olhar para o lado para ver uma camisa, um bonezinho ou uma sacola da Ferrari na mesa vizinha.
Nas ruas, não é difícil encontrar os motoristas "estrangeiros" fechando o corredor dos motoboys e atrapalhando ainda mais o caótico trânsito da capital paulista.
São Paulo vive este Grande Prêmio, disparado o evento turístico mais importante do ano na cidade.
Neste sábado, o fim de semana começa para valer. Não só para os pilotos, mas também para mim, que estarei acompanhando as atividades diretamente do autódromo de Interlagos.
É hora de dormir, já que amanhã o despertar será muito cedo. Mas o sono não chega.
Mesmo veterano, ainda sinto aquele friozinho na barriga antes do primeiro dia em Interlagos.
Em algum outro ponto de São Paulo - provavelmente no hotel Transamérica, segundo o motorista do táxi - Hamilton e Massa também devem estar bem ansiosos para o dia de amanhã.
Depois dos treinos desta sexta, não dá para prever quem vai se dar melhor no treino classificatório.
A única certeza é que a disputa entre os dois será muito emocioante.
Às 14h da tarde acontece o treino que define o grid. Não dá para perder.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Palpitão do Grande Prêmio do Brasil
Hamilton é o favorito, como era no ano passado.
A distância que Massa precisa descontar - sete pontos - realmente é bastante significativa.
Na última temporada, Raikkonen tirou essa desvantagem.
Será que o raio cai duas vezes no mesmo lugar?
Depois do domínio demonstrado na China, a McLaren chega muito forte a Interlagos.
Pode não ser o suficiente para superar as Ferrari, mas Hamilton certamente vai correr com folga em relação aos pilotos de BMW, Renault e companhia.
É claro que este Blog torce por Massa.
Mas a aposta principal vai para o inglês.
Se chover, muda alguma coisa?
Claro que sim. Hamilton leva vantagem, mas o imponderável entra em cena.
Com pista molhada, a possibilidade de acidentes e safety car aumenta bastante.
E, para Massa, qualquer fator externo que possa ''bagunçar'' a prova é uma vantagem.
Ainda assim, tudo parece a favor de Hamilton.
Sem arriscar, o Blog crava que o inglês leva o título.
E Massa, como consolação, fica com a vitória em Interlagos.
Vamos ao último Palpitão da temporada:
Vitória: Felipe Massa
Pole: Lewis Hamilton
Decepção do GP: Williams. No ano passado, Rosberg foi o quarto em Interlagos. Resultado quase impossível de se repetir dessa vez...
Primeiro abandono: Giancarlo Fisichella. Nada contra o italiano, apenas uma leve intuição...
Zona de pontuação:
1. Felipe Massa
2. Lewis Hamilton
3. Kimi Raikkonen
4. Robert Kubica
5. Fernando Alonso
6. Sebastian Vettel
7. Nick Heidfeld
8. Nelsinho Piquet
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Nesta sexta, o escriba do Blog parte para mais um GP Brasil no tradicional setor A de Interlagos. Talvez a atualização do Blog fique prejudicada nos próximos dias. Se isso acontecer, pode deixar que deixo um aviso por aqui.
Primeiros treinos às 11h e 14h de Brasília, com SporTV. Até mais!
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Chuva em Interlagos. Vantagem para Massa ou Hamilton?
O brasileiro já mostrou que não é um especialista em pista molhada.
Depois do trágico desempenho no GP da Inglaterra, Massa até que andou muito bem no temporal de Monza, mas o rival Lewis Hamilton levou nítida vantagem.
Para a corrida do próximo domingo, que vai decidir o título da temporada, a previsão aponta 80% de possibilidade de chuva.
Ruim para Massa?
Nem tanto.
Nessa altura do campeonato, qualquer coisa que possa ''bagunçar'' a corrida será lucro para o brasileiro.
Massa não tem nada a perder.
Já Hamilton poderia se complicar numa prova com acidentes, safety car, pista molhada, entre outros fatores.
Mesmo tendo perdido quase todos os duelos em pista molhada contra Hamilton, Massa bem que poderia torcer por uma chuvinha em Interlagos.
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Interlagos está impecável
Faltam apenas alguns pequenos detalhes a serem corrigidos.
Em alguns pontos da pista, por exemplo, serão feitas ranhuras para melhorar o escoamento da água em caso de chuva.
No geral, porém, não há nada a mudar.
Nos últimos anos, o GP Brasil vinha sendo uma preocupação para os comissários da FIA.
Teve ano que caiu placa de publicadade no meio da pista durante a classificação.
Em outro, um temporal obrigou o adiamento da largada por causa das poças que se formaram em alguns trechos do circuito.
Mas neste ano não há quase nada a reclamar.
A organização do GP Brasil está realmente de parabéns.
Interlagos está até com cara de autódromo asiático ultra moderno.
Sem dúvidas, não há outro palco melhor para a decisão do campeonato.
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Ferrari fora da Fórmula 1? Conta outra, vai...
Depois de um encontro em Maranello, o conselho de administração da Ferrari apresentou o balanço financeiro do ano e ameaçou: a equipe pode abandonar a Fórmula 1 no futuro.
Culpa, é claro, do polêmico projeto de padronização total dos motores lançado pela FIA.
A ameaça da Ferrari é a prova cabal de que os bastidores da Fórmula 1 estão realmente agitados.
No passado, a escuderia já usou do mesmo artifício, sempre em situações de máximo estresse.
Em todos os episódios em que ameaçou uma saída, o time de Maranello foi atendido prontamente em suas soliticações.
Dessa vez, não deverá ser diferente.
Não dá para imaginar Fórmula 1 sem Ferrari e os dirigentes da equipe italiana sabem muito bem disso.
Nem mesmo um sujeito como Max Mosley é irresponsável suficiente para imaginar uma F-1 sem a presença da Ferrari.
O plano de padronização de motores, anote aí, está prestes a fracassar.
domingo, 26 de outubro de 2008
Na última corrida do campeonato, pressão estará toda sobre Hamilton
O piloto brasileiro precisa vencer em Interlagos e torcer para que Hamilton não seja quinto colocado.
Missão das mais complicadas, e Massa sabe disso.
Por isso mesmo, o vice-líder da temporada vem sendo cauteloso em suas declarações pré-GP Brasil.
Massa não descarta vitória, diz que vai fazer de tudo para vencer em Interlagos, mas não passa nem perto de prometer título.
É exatamente esta a postura que ele precisa manter.
Sem criar expectativas exageradas, sem apelar para o ufanismo desnecessários que todos nós conhecemos muito bem.
Até agora, Massa vem jogando a responsabilidade para cima de Hamilton.
Uma postura inteligente, de alguém que conhece a instabilidade emocional do adversário.
Hamilton insiste em afirmar que Massa vai entrar pressionado porque corre na frente da torcida.
Mas o brasileiro, pelas declarações equilibradas e bem pensadas, já conseguiu afastar de si maiores responsabilidades.
A pressão está, sim, toda em cima de Hamilton.
Será que o inglês vai ceder? Resta saber se Hamilton aprendeu a lição do ano passado...