Com chuva, o Grande Prêmio de Mônaco não poderia ser uma corrida convencional. Numa prova recheada de pequenos acidentes, bicos quebrados e mudanças nas condições de pista, Lewis Hamilton contou com a estratégia perfeita da McLaren para vencer pela primeira vez no Principado. Robert Kubica finalizou num ótimo segundo, enquanto Felipe Massa foi prejudicado por erros da Ferrari e não passou de terceiro. Já Rubens Barrichello quebrou o longo jejum de pontos com um sólido sexto lugar.
O domingo em Mônaco foi chuvoso desde a manhã. No horário da largada, a chuva era fraca, mas a pista ainda estava muito molhada. À exceção de Nelsinho Piquet, que arriscou começar com os pneus "biscoito", todos os pilotos alinharam com compostos intermediários. Mesmo antes do início, o G.P. de Mônaco já teve seu primeiro momento de drama, quando Heikki Kovalainen ficou parado no grid e precisou ser empurrado para largar dos boxes.
Na saída, o pole Felipe Massa não cometeu erros e manteve a ponta sem maiores dificuldades. Ao mesmo tempo, Lewis Hamilton superou Kimi Raikkonen já no arranque, passando para a vice-liderança. Ainda na primeira volta, Nico Rosberg e Jenson Button danificaram seus aerofólios dianteiros em incidentes separados. Era apenas o início de um festival de bicos quebrados, que se prolongaria até o fim da corrida.
De início, Massa impôs seu ritmo e não demorou a abrir vantagem para Hamilton. A chuva apertava e os pilotos tinham cada vez mais dificuldades de se manter na pista. Na sexta volta, Hamilton cometeu um erro e atingiu o guard rail na curva do Tabaco. Para sorte do inglês, o carro não ficou muito danificado, mas Hamilton precisou visitar os boxes para trocar um pneu que se dechapou no acidente.
O piloto da McLaren aproveitou para encher o tanque de combustível até a boca. Hamilton retornou em quinto, beneficiado pelo ritmo fraco do pelotão intermediário, que andava lento por causa da nuvem de spray. Logo depois, foi a vez do quarto colocado Fernando Alonso beijar o muro. Assim como Hamilton, o bicampeão conseguiu retornar aos boxes, mas perdeu várias posições.
Alonso havia batido na curva do Cassino, que estava se tornando um verdadeiro sabão. Alguns segundos após Alonso acertar o guardrail, David Coulthard rodou e bateu mais forte. Na seqüência, Sebastien Bourdais também saiu do trilho e encontrou o muro, ficando estacionado atrás da Red Bull de Coulthard. Os dois carros batidos forçaram a entrada do safety cat, o que arruinou a vantagem de treze segundos que Massa tinha na liderança.
A corrida recomeçou na volta 11, com Massa, Raikkonen e Robert Kubica liderando o pelotão. Nesse momento, Raikkonen recebeu um drive through por causa de um erro inacreditável da Ferrari, que havia demorado demais para deixar seu carro pronto no grid. O finlandês permaneceu o máximo possível na pista, mas precisou pagar sua punição e caiu para quarto. Com Raikkonen fora de combate, Kubica subiu para segundo e começou a pressionar o líder Massa.
Enquanto isso, Alonso vinha escalando o pelotão. Após superar Mark Webber na curva Mirabeau, o bicampeão tentou uma manobra arriscada sobre Nick Heidfeld no grampo de Lowes. O resultado foi desastroso. Alonso perdeu o bico pela segunda vez no dia, Heidfeld saiu com um pneu furado e vários pilotos quase precisaram parar para não bater. No meio da confusão, Rubens Barrichello conseguiu uma bela ultrapassagem sobre Kazuki Nakajima, e entrou pela primeira vez na zona de pontuação.
Lá na frente, Massa vinha sofrendo forte pressão de Kubica. Quando o polonês já estava alcançando o brasileiro, Massa errou na curva Saint-Dévote e passou reto. O piloto da Ferrari conseguiu retornar à pista sem perder muito tempo, mas Kubica assumiu a liderança. Nessa altura, a chuva já havia parado, e o circuito começava a secar lentamente. A estratégia seria fundamental para decidir o destino da corrida.
Kubica foi o primeiro dos líderes a visitar os boxes, retornando ainda com pneus intermediários. Um pouco mais pesado do que o polonês, Massa ficou mais algumas voltas na pista, e abriu distância suficiente para superar o rival após o pit stop. A Ferrari optou por encher todo o tanque do brasileiro, o que se revelaria um erro tático terrível. Massa voltou em segundo, atrás somente de Hamilton, mas precisaria correr até o final com compostos intermediários.
A pista já secava num ritmo mais rápido, e a chuva não dava sinais de retorno. Mesmo assim, as condições ainda eram difíceis. Raikkonen, por exemplo, distraiu-se por um segundo e chocou-se contra o guard rail na Saint-Dévote. Para variar, apenas um bico quebrado foi o saldo da batida, que derrubou o finlandês até o sexto lugar. Raikkonen terminou superado inclusive pelo surpreendente Adrian Sutil, que andava em quinto com a Force India.
Já fora de qualquer possibilidade de pontos, Alonso se tornou o primeiro piloto a tentar pneus de seco. O espanhol logo provou que os compostos intermediários não eram mais a escolha certa, motivando uma série de pit stops para os outros pilotos. De qualquer maneira, parte da pista ainda estava molhada, e Alonso chegou a passear fora da pista pelo menos duas vezes, sem prejuízos. Por sua vez, Nelsinho Piquet não teve a mesma sorte, tendo que se retirar da prova após bater na Saint-Dévote.
Líder absoluto, Hamilton só fez sua segunda parada quando já tinha meio minuto de vantagem sobre Massa. Sem surpresas, o inglês voltou ainda na liderença, e com pneus de pista seca. Kubica também realizou seu último pit stop logo depois. O polonês seria o terceiro, mas Massa também precisou fazer mais uma parada, porque os pneus intermediários já não rendiam mais. Com o atraso do brasileiro, Kubica subiu para a segunda posição.
Atrás do trio, Sutil vinha num extraordinário quarto lugar. O alemão vivia seu dia de glória. Em certo momento, Sutil chegou a marcar a volta mais rápida da corrida. Depois, humilhou a McLaren ao colocar um giro de vantagem sobre Kovalainen. Mas ainda havia muita corrida pela frente. Correndo em nono lugar, Nico Rosberg cometeu um erro no complexo da Piscina e bateu forte. Mais uma vez, o safety car estava de volta à pista.
Após algumas voltas de intervenção, o carro de segurança se retirou aos boxes, restando poucas voltas para a bandeirada. Hamilton, Kubica e Massa lideravam a pelotão, seguidos pelo impressionante Sutil e pelo atrapalhado Raikkonen. Em dia irreconhecível, o atual campeão errou na saída do túnel e encheu a traseira do pobre Sutil. O alemão precisou abandonar, enquanto Raikkonen ainda encontrou forças para fazer a volta mais rápida e terminar em nono, apesar de mais uma parada não programada.
Dentro dos boxes, Sutil não conseguiu esconder sua decepção, e chorou amparado pela equipe. Sentimento bem diferente era o do amigo Hamilton, que não deu sopa para o azar e venceu com categoria. Foi o primeiro triunfo dele em Mônaco, encerrando um período de quase quarenta anos sem vitórias inglesas no Principado. A última havia sido de Graham Hill, em 1969. Atrás de Kubica e Massa, o ótimo Mark Webber herdou o quarto posto após a tragédia de Sutil.
Em quinto, Sebastian Vettel provou mais uma vez ser um fenômeno na chuva. Outro que também tem motivos para comemorar é Rubens Barrichello. O veterano fez uma corrida consistente para chegar em sexto, encerrando um longo jejum de 22 corridas sem pontos. Na seqüência, Kazuki Nakajima conseguiu um bom sétimo, e Kovalainen ainda salvou um pontinho depois de uma corrida recheada de problemas. Completando os dez primeiros, Raikkonen e Alonso ficaram fora dos pontos, em performances pouco dignas de campeões mundiais.
Logo abaixo, a classificação final do Grande Prêmio de Mônaco e as tabelas de pontos dos Mundiais de Pilotos e de Construtores:
1. Lewis Hamilton/Inglaterra/McLaren, 76 voltas em 2h00:42.272s 2. Robert Kubica/Polônia/BMW, a 3.069s
3. Felipe Massa/Brasil/Ferrari, a 4.811s
4. Mark Webber/Austrália/Red Bull, a 19.264s
5. Sebastian Vettel/Alemanha/Toro Rosso, a 24.657s
6. Rubens Barrichello/Brasil/Honda, a 28.408s
7. Kazuki Nakajima/Japão/Williams, a 30.180s
8. Heikki Kovalainen/Finlândia/McLaren, a 33.191s
9. Kimi Raikkonen/Finlândia/Ferrari, a 33.793s
10. Fernando Alonso/Espanha/Renault, a 1 volta
11. Jenson Button/Inglaterra/Honda, a 1 volta
12. Timo Glock/Alemanha/Toyota, a 1 volta
13. Jarno Trulli/Itália/Toyota, a 1 volta
14. Nick Heidfeld/Alemanha/BMW, a 4 voltas
Não terminaram:
Adrian Sutil/Alemanha/Force India, Acidente na volta 67
Nico Rosberg/Alemanha/Williams, Acidente na volta 59
Nelsinho Piquet/Brasil/Renault, Acidente na volta 47
Giancarlo Fisichella/Itália/Force India, Problema Mecânico na volta 36
David Coulthard/Escócia/Red Bull, Acidente na volta 7
Sebastien Bourdais/França/Toro Rosso, Acidente na volta 7
Melhor volta: Kimi Raikkonen, 1:16.689s na volta 74
Mundial de pilotos: 1. HAMILTON, 38 pts; 2. Raikkonen, 35 pts; 3. Massa, 34 pts; 4. Kubica, 32 pts; 5. Heidfeld, 20 pts; 6. Kovalainen e Webber, 15 pts; 8. Alonso e Trulli, 9 pts; 10. Rosberg, 8 pts; 11. Nakajima, 7 pts; 12. Vettel, 4 pts; 13. Button e Barrichello, 3 pts; 15. Bourdais, 2 pts; 16. Coulthard, Glock, Fisichella, Piquet, Sato, Davidson e Sutil, 0 pts
Mundial de Construtores: 1. FERRARI, 69 pts; 2. McLaren, 53 pts; 3. BMW, 52 pts; 4. Williams e Red Bull, 15 pts; 5. Toyota e Renault, 9 pts; 7. Toro Rosso e Honda, 6 pts; 9. Force India e Super Aguri, 0 pts
A próxima parada da Fórmula 1 é o Canadá, no dia 8 de junho. Logo mais, o Blog volta com a Análise do Grande Prêmio, repercutindo os resultados do G.P. de Mônaco. Até já!