Texto originalmente postado no site Pit Stop
O sábado foi um dia estranho em São Paulo.
Começou bem frio, assim como estava na sexta.
De manhã, o céu amanheceu coberto de nuvens. Parecia que a chuva poderia ameaçar, mas não foi isso que ocorreu.
Em cerca de uns 30 minutos, o vento gelado deu lugar a um Sol de rachar.
E, nas arquibancadas descobertas, quem não levou protetor solar virou tomate.
No fim da tarde, já quase não havia mais nuvens no céu paulistano, mas os institutos de metereologia insistem que vai chover neste domingo.
Vá entender...
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O ambulante vem nos abordar num sinal de trânsito já próximo do autódromo de Interlagos:
- Vai um bonezinho aí, meu?
- Quanto é que tá?
- 25!
- 25?
- É, tá na promoção!
Olho para a frente, vejo que o sinal já está para abrir e espero alguns segundos. É essa a tática. Quando a luz verde estiver prestes a aparecer, o vendedor vai inevitavelmente diminuir o preço.
Mas eu não contava com a astúcia do motorista do táxi.
- 25? No semáforo ali atrás estava 10...
O vendedor olha sem graça, sem saber o que dizer. Abre a boca para falar alguma coisa e desiste. Pensa em argumentar, mas dá o braço a torcer:
- Então leva por 10 mesmo...
E assim, em três segundos, o boné que "tava em promoção" saiu por menos da metade do preço.
O motorista do táxi levou cinco reais de gorjeta quando chegamos ao autódromo. Ainda fiquei com dez reais de lucro.
E algum amigo meu vai ganhar um bonezinho da Ferrari achando que é de verdade.
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Os preços dos stands de Interlagos inflacionaram.
A garrafinha de água até que não está tão cara assim: R$3 é o preço dessa vez. Já teve ano que passou de R$4,50...
Mas é preciso chegar a Interlagos psicologicamente preparado para gastar bastante.
Uma simples pizza, daquelas que você compra em qualquer cantina de colégio, custa R$7. O hamburger chega a R$10.
Para piorar, as filas também vão ficando cada vez mais lentas e longas. A tática é chegar o mais cedo possível e comprar todos os tíquetes logo depois de marcar o lugar na arquibancada. Mais tarde, vai valer a pena. Principalmente para aqueles que gostam de uma cervejinha, de longe o item mais disputado entre os torcedores em Interlagos.
Neste ano, por algum estranho motivo, o número de stands encolheu. Toyota e Renault, que sempre marcavam presença atrás das arquibancadas do setor A, não apareceram.
Apenas Ferrari, McLaren e BMW estão por alí. Coincidência ou não, são as três primeiras equipes no campeonato.
O stand da BMW é simples, prático, e também o menos caro. As camisas são mais "convencionais", digamos assim.
Na Ferrari e na McLaren, porém, dá para sair vestido igual aos mecânicos da equipe.
No stand do time de Maranello, os preços são impressionantes. Veja só: uma jaqueta oficial, daquelas que os engenheiros da Ferrari usam durante o fim de semana das corridas, custa a bagatela de R$ 700.
O guarda-chuva da Ferrari não sai por menos de R$200.
Ainda assim, a loja da escuderia vermelha está sempre lotada.
Vale aquele ditado: se está na chuva, é para se molhar...
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A cena se passa na fila do caixa do stand de comidas e bebidas. São dez horas da manhã. Faltam quatro, portanto, para o início do treino classificatório. À minha frente, o sujeito vai fazer seu pedido.
- Moça, me vê sete cervejas.
- Só um momento, senhor.
- Não, espera aí, será que vai dar?
- Vai dar para o quê, senhor?
- Até a hora do treino. Será que sete cervejas "vai dá"?
- Depende. Quantas pessoas fazem parte do seu grupo?
- Uma...
E comprou sete tíquetes de cerveja para ele mesmo.
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A hora do treino vai chegando e o pessoal vai se animando.
Toda garota que passa na parte debaixo da arquibancada precisa agüentar um "fiu-fiu" coletivo dos marmanjos mais acima.
Se está acompanhada, o marido ou namorado sofre.
Gritos de "sócio" e "chifrudo" são os mais gentis. "Deixa ele aí e vem sentar aqui do meu lado, pô!", é o pedido que você mais ouve o tempo inteiro.
Tem gente de tudo o que é lugar.
Perto de mim, um grupo de Goiânia. Ali mais embaixo, vários mineiros com camisa do Cruzeiro. Tentaram colocar uma bandeira da "raposa" no alambrado, mas precisaram tirar depois que um grupo de gremistas gritou que ia dar confusão.
Do interior do São Paulo, vêm aos montes. O sotaque caipira não deixa mentir.
Aqueles mais animados resolvem organizar uma "ola" e quem não participa vira inimigo de estado.
Como assim, não participar da "ola"?
"Ô vi***, presta atenção que é a ola, car****!", é o mínimo que você ouve se estiver distraído na hora.
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Algumas impressões não necessariamente corretas sobre os treinos deste sábado:
- Massa tem uma pilotagem toda particular na curva do Laranjinha. Eledemora mais a começar a virar o volante. Faz a curva mais por fora, semtocar a zebra na segunda perna da curva, e mantém uma velocidadesuperior à dos adversários. Pelo visto, deu certo.
- Rubinho foi o único piloto que, em algum momento, travou os pneusao entrar nos boxes. O pit lane de Interlagos está no meio de umtrecho de pé embaixo. Quem conseguir frear no último instante sempassar o limite de velocidade leva uma pequena, mas considerávelvantagem. Foi isso que Rubinho tentou fazer, indo ao limite antes dereduzir a velocidade.
- Os pilotos da Honda eram os únicos que passavam marcha no ponto ondeeu estava. Quando isso acontece, o motor faz um leve barulho de"estouro". O que isso significa? Que o motor da Honda é provavelmente opior de todo o grid. Os demais pilotos, quando passavam à minha frente,já haviam chegado à sétima e última marcha. O carro da Honda demoramais. Ou seja: até atingir a velocidade máxima, Button e Rubinho vãoficando para trás.
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Foi uma pole sublime de Massa.
Se vai levar o título, não dá para saber. Mas o piloto está conquistando a torcida brasileira.
Neste sábado, o público nas arquibancadas de Interlagos acenava freneticamente a cada passagem de Felipe.
No ano passado, a festa também foi grande, mas não tão intensa.
Em Hamilton, pela primeira vez, deve ter batido um friozinho na barriga.
O título ainda não está nada garantido.
Palpites para amanhã?
Pois bem: Hamilton parecia tranqüilo para levar o título. Não está mais.
Ainda assim, continua com uma ampla vantagem sobre Massa.
Resta saber se vai conseguir controlar os instintos. Se evitar problemas na primeira volta e mantiver o carro na pista, dificilmente vai dexiar escapar o campeonato pelo segundo ano seguido.
Mas há a possibilidade de chuva, o risco de um safety car no momento errado e, é claro, a presença de 140.000 torcedores secando cada uma de suas manobras.
O inglês certamente não vai dormir muito sossegado nesta noite.
sábado, 1 de novembro de 2008
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5 comentários:
Muito boas as histórias, Gustavo!
Agora é esperar pelo momento da decisão.
Abs
Sete cervejas é muito.
seis daria tranquilo.
Nem na F-1 esquecem o futebol, hehehe
Todo mundo de ressaca de Interlagos...
HAHA to adorando os textos, tudo isso ai é verdade, retratado por quem sabe escrever!!
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