Continuamos, hoje, a primeira lista do ano da seção Os 10+ do Blog F1 Grand Prix. Dessa vez, o assunto são corridas animadas, confusas e emocionantes, que certamente ficaram marcadas na memória dos fãs da velocidade. Sem perder mais tempo, vamos em frente:
SEGUNDO COLOCADO - Grande Prêmio do Canadá de 1973
Até aqui, a lista das provas mais caóticas de todos os tempos já falou sobre várias corridas confusas e emocionantes, cheias de acidentes, surpresas e reviravoltas. Nenhuma delas, porém, teve o "ingrediente especial" do G.P. do Canadá de 1973: no fim, ninguém sabia quem havia ganhado! Como assim? Calma, vamos desde o início.
Nos anos 60 e 70, era costume que a corrida canadense fosse sempre umas das últimas da temporada. Em 1973, não foi diferente. Quando a Fórmula 1 chegou ao circuito de Mosport Park - penúltima parada do campeonato - o título já estava decicido a favor de Jackie Stewart. Por isso mesmo, o clima era mais leve do que o habitual, e os pilotos de ponta entraram mais relaxados no fim de semana do G.P.
O cenário, portanto, era propício para eventuais zebras. No grid de largada, porém, a ordem obedecia à lógica do ano: a Lotus de Ronnie Peterson aparecia na pole, com a dupla da promissora McLaren - Peter Revson e Denny Hulme - logo a seguir. Emerson Fittipaldi, o outro piloto da Lotus, vinha em quinto, com o campeão antecipado Stewart apenas em nono.
No dia da corrida, uma chuva insistente toma conta do circuito de Mosport, provocando o adiamento da largada. A pista ainda está completamente molhada quando a prova é autorizada, uma hora após o previsto. Cometendo um sério erro estratégico, o pole Peterson sai com pneus slicks, e não demora a ser superado por todo o pelotão.
Ao mesmo tempo, Niki Lauda vai de oitavo para primeiro em apenas quatro voltas, numa performance empolgante. O austríaco - ainda um ilustre desconhecido naquela época - estava aproveitando ao máximo o ótimo rendimento dos pneus Firestone em pista molhada. Após 15 voltas, sua vantagem sobre o vice-líder é de 23 segundos. Estaria a vitória garantida? Nada disso.
A chuva havia parado, e a pista secava cada vez mais. Sem alternativa, Lauda vai para os boxes, mas a equipe BRM demora muito, e ele perde tempo demais. Com os problemas do austríaco, Jackie Oliver passa para primeiro, com Jean-Pierre Beltoise em segundo. Então, na volta 24, um caos absoluto se instaura em Mosport.
Praticamente todos os pilotos visitam os boxes ao mesmo tempo, para desespero do pessoal da cronometragem, que ainda era manual naquela época. Resultado: os organizadores se atrapalham e, de repente, ninguém sabe mais quem é o líder. A situação já era extremamente confusa, mas iria piorar ainda mais.
Na volta 33, Jody Scheckter e François Cevert batem forte, num acidente causado pelo sul-africano. Com detritos espalhados pelo circuito, alguém da direção de prova tem a genial idéia de estrear a presença do safety car numa corrida de Fórmula 1. Já tradicional nas corridas norte-americanas, o carro de segurança foi testado com sucesso numa simulação durante o G.P. da Áustria. No Canadá, porém, sua entrada ocorreu no pior momento possível.
Dentro do safety car, estão dois homens: Eppie Witzes, um obscuro piloto canadense, e um membro da organização, Peter Macintosh. Este último espera pela passagem de Stewart, que parecia ser o líder. Mas o escocês entra nos boxes exatamente naquele momento, sem que o pobre Macintosh perceba. O safety car passeia pela pista meio sem rumo, enquanto Macintosh tenta se comunicar com a torre de controle.
"Quem é o líder?", pergunta ele. A resposta: "O carro 25". Macintosh volta a questionar seus superiores duas vezes, sem acreditar na respota. Depois de receber a confirmação, o safety car se posiciona na frente do carro em questão, o do neo-zelandês Howden Ganley. Piloto da pequenina equipe de Frank Williams, Ganley não acredita no que está acontecendo. Faz vários gestos ao box, tentando entender se ele estava realmente em primeiro. Na verdade, não estava.
No meio do caos, o safety car havia deixado três pilotos passarem: Revson, Oliver e Beltoise. O trio alinha na rabeira do pelotão, uma volta à frente dos outros. Naquele momento, porém, ninguém sabia que eles eram os líderes. E, durante um bom tempo, continuariam sem saber. Para o público e para os organizadores, o ponteiro é Ganley. Após cinco voltas na pista, o safety car volta para os boxes, e a corrida recomeça.
Para Ganley, foi o ponto alto de sua carreira. "Nunca guiei tão depressa na minha vida. Bufei tanto que quase fiquei sem respirar", disse ele mais tarde. Não demora muito para que Ganley perca a "liderança" para Emerson, que logo abre distância. Mal sabia o brasileiro que ele era apenas o quarto, com quase uma volta de desvantagem para Revson, Oliver e Beltoise. Mesmo assim, Emerson acelera e começa a diminuir a distância para o trio.
Até o fim da corrida, o placar do circuito de Mosport trocaria cinco vezes o nome do líder, alternando entre Ganley, Oliver e Emerson. Finalmente, o nome do brasileiro aparece no topo. Mas, nos boxes, o boato é que Oliver ocupa a liderança! Faltavam quarenta voltas para o fim, e Emerson era destacadamente o piloto mais rápido da pista. A Lotus diz para ele acelerar, e Emerson obedece. Nos instantes finais, o brasileiro ultrapassa Beltoise. Depois, na última volta, supera Oliver.
Colin Chapman, o legendário dono da Lotus, comemora a vitória de Emerson ao seu estilo, jogando para cima seu boné preto da JPS. Mas o triunfo não estava garantido. Completamente perdidos, os organizadores dão a bandeirada final para Ganley, que na verdade era apenas o sexto! A corrida termina, só que ninguém sabe quem ganhou. A direção de prova debruça-se sobre as planilhas, tentando descobrir o enigma. Enfim, após quatro horas de discussão, chega o resultado oficial.
Revson é o vencedor. Após sair de segundo no grid, o americano caíra para último na largada, mas contou com a sorte para se recuperar. No momento em que o safety car entrou na pista, Revson acabou se beneficiando do erro dos organizadores, abrindo uma volta de vantagem sobre o resto. Mais tarde, o americano ultrapassou Oliver quando este teve problemas no acelerador, e não perdeu a ponta até o final. A equipe Lotus ainda contesta a decisão, mas não havia mais como inverter o resultado.
Até aqui, a lista das provas mais caóticas de todos os tempos já falou sobre várias corridas confusas e emocionantes, cheias de acidentes, surpresas e reviravoltas. Nenhuma delas, porém, teve o "ingrediente especial" do G.P. do Canadá de 1973: no fim, ninguém sabia quem havia ganhado! Como assim? Calma, vamos desde o início.
Nos anos 60 e 70, era costume que a corrida canadense fosse sempre umas das últimas da temporada. Em 1973, não foi diferente. Quando a Fórmula 1 chegou ao circuito de Mosport Park - penúltima parada do campeonato - o título já estava decicido a favor de Jackie Stewart. Por isso mesmo, o clima era mais leve do que o habitual, e os pilotos de ponta entraram mais relaxados no fim de semana do G.P.
O cenário, portanto, era propício para eventuais zebras. No grid de largada, porém, a ordem obedecia à lógica do ano: a Lotus de Ronnie Peterson aparecia na pole, com a dupla da promissora McLaren - Peter Revson e Denny Hulme - logo a seguir. Emerson Fittipaldi, o outro piloto da Lotus, vinha em quinto, com o campeão antecipado Stewart apenas em nono.
No dia da corrida, uma chuva insistente toma conta do circuito de Mosport, provocando o adiamento da largada. A pista ainda está completamente molhada quando a prova é autorizada, uma hora após o previsto. Cometendo um sério erro estratégico, o pole Peterson sai com pneus slicks, e não demora a ser superado por todo o pelotão.
Ao mesmo tempo, Niki Lauda vai de oitavo para primeiro em apenas quatro voltas, numa performance empolgante. O austríaco - ainda um ilustre desconhecido naquela época - estava aproveitando ao máximo o ótimo rendimento dos pneus Firestone em pista molhada. Após 15 voltas, sua vantagem sobre o vice-líder é de 23 segundos. Estaria a vitória garantida? Nada disso.
A chuva havia parado, e a pista secava cada vez mais. Sem alternativa, Lauda vai para os boxes, mas a equipe BRM demora muito, e ele perde tempo demais. Com os problemas do austríaco, Jackie Oliver passa para primeiro, com Jean-Pierre Beltoise em segundo. Então, na volta 24, um caos absoluto se instaura em Mosport.
Praticamente todos os pilotos visitam os boxes ao mesmo tempo, para desespero do pessoal da cronometragem, que ainda era manual naquela época. Resultado: os organizadores se atrapalham e, de repente, ninguém sabe mais quem é o líder. A situação já era extremamente confusa, mas iria piorar ainda mais.
Na volta 33, Jody Scheckter e François Cevert batem forte, num acidente causado pelo sul-africano. Com detritos espalhados pelo circuito, alguém da direção de prova tem a genial idéia de estrear a presença do safety car numa corrida de Fórmula 1. Já tradicional nas corridas norte-americanas, o carro de segurança foi testado com sucesso numa simulação durante o G.P. da Áustria. No Canadá, porém, sua entrada ocorreu no pior momento possível.
Dentro do safety car, estão dois homens: Eppie Witzes, um obscuro piloto canadense, e um membro da organização, Peter Macintosh. Este último espera pela passagem de Stewart, que parecia ser o líder. Mas o escocês entra nos boxes exatamente naquele momento, sem que o pobre Macintosh perceba. O safety car passeia pela pista meio sem rumo, enquanto Macintosh tenta se comunicar com a torre de controle.
"Quem é o líder?", pergunta ele. A resposta: "O carro 25". Macintosh volta a questionar seus superiores duas vezes, sem acreditar na respota. Depois de receber a confirmação, o safety car se posiciona na frente do carro em questão, o do neo-zelandês Howden Ganley. Piloto da pequenina equipe de Frank Williams, Ganley não acredita no que está acontecendo. Faz vários gestos ao box, tentando entender se ele estava realmente em primeiro. Na verdade, não estava.
No meio do caos, o safety car havia deixado três pilotos passarem: Revson, Oliver e Beltoise. O trio alinha na rabeira do pelotão, uma volta à frente dos outros. Naquele momento, porém, ninguém sabia que eles eram os líderes. E, durante um bom tempo, continuariam sem saber. Para o público e para os organizadores, o ponteiro é Ganley. Após cinco voltas na pista, o safety car volta para os boxes, e a corrida recomeça.
Para Ganley, foi o ponto alto de sua carreira. "Nunca guiei tão depressa na minha vida. Bufei tanto que quase fiquei sem respirar", disse ele mais tarde. Não demora muito para que Ganley perca a "liderança" para Emerson, que logo abre distância. Mal sabia o brasileiro que ele era apenas o quarto, com quase uma volta de desvantagem para Revson, Oliver e Beltoise. Mesmo assim, Emerson acelera e começa a diminuir a distância para o trio.
Até o fim da corrida, o placar do circuito de Mosport trocaria cinco vezes o nome do líder, alternando entre Ganley, Oliver e Emerson. Finalmente, o nome do brasileiro aparece no topo. Mas, nos boxes, o boato é que Oliver ocupa a liderança! Faltavam quarenta voltas para o fim, e Emerson era destacadamente o piloto mais rápido da pista. A Lotus diz para ele acelerar, e Emerson obedece. Nos instantes finais, o brasileiro ultrapassa Beltoise. Depois, na última volta, supera Oliver.
Colin Chapman, o legendário dono da Lotus, comemora a vitória de Emerson ao seu estilo, jogando para cima seu boné preto da JPS. Mas o triunfo não estava garantido. Completamente perdidos, os organizadores dão a bandeirada final para Ganley, que na verdade era apenas o sexto! A corrida termina, só que ninguém sabe quem ganhou. A direção de prova debruça-se sobre as planilhas, tentando descobrir o enigma. Enfim, após quatro horas de discussão, chega o resultado oficial.
Revson é o vencedor. Após sair de segundo no grid, o americano caíra para último na largada, mas contou com a sorte para se recuperar. No momento em que o safety car entrou na pista, Revson acabou se beneficiando do erro dos organizadores, abrindo uma volta de vantagem sobre o resto. Mais tarde, o americano ultrapassou Oliver quando este teve problemas no acelerador, e não perdeu a ponta até o final. A equipe Lotus ainda contesta a decisão, mas não havia mais como inverter o resultado.
Foi a segunda e última vitória de Revson, o piloto que era herdeiro da marca de cosméticos "Revlon" (vale um parênteses: no início da carreira, o americano mudou o sobrenome para correr escondido da família, e nunca mais usou o nome de batismo de novo). Quanto ao safety car: seu retorno só aconteceria vinte anos mais tarde, no G.P. Brasil de 1993. A bizarra estréia do "carro-madrinha", porém, não seria mais esquecida...
Pelas condições mutantes da pista, que levaram todo o pelotão a fazer trocas de pneus e embolaram a ordem da corrida, pela absurda confusão causada pelos incompetentes diretores de prova e por ter ficado durante quatro horas sem saber quem havia sido o vencedor, o Grande Prêmio do Canadá de 1973 leva o segundo lugar na lista das Dez Corridas Mais Caóticas da História.
A seguir, um rápido resumo da corrida:
A seção Os 10+ do Blog F1 Grand Prix volta na próxima terça, apresentando o grande número um da lista das Dez Corridas Mais Caóticas da História. E hoje, até o fim do dia, comentários sobre as principais notícias do mundo da velocidade. Nos vemos por aí!
A seguir, um rápido resumo da corrida:
A seção Os 10+ do Blog F1 Grand Prix volta na próxima terça, apresentando o grande número um da lista das Dez Corridas Mais Caóticas da História. E hoje, até o fim do dia, comentários sobre as principais notícias do mundo da velocidade. Nos vemos por aí!
Fontes principais: http://pandinigp.blogspot.com/2007/06/la-mosca-blanca-nmero-19-o-primeiro-gp.html e http://www.f1total.com.br/faster/modules.php?name=Enciclopedia&op=content&tid=3044
Crédito das fotos:
Número Dois - http://www.forum.notebookreview.com/
Terceira, quarta e nona fotos do post - http://www.f1-facts.com/
Sexta e sétima fotos do post - http://www.pandinigp.blogspot.com/
Demais - http://www.youtube.com/
12 comentários:
Nunca tinha visto essa video, foi vc msm que arrumou? Da onde? A corrida foi mto confusa, merecia um lugar aí no topo da lista msm.
Perguntem ao Emerson quem ganhou... ele não aceitou o resultado da corrida ate hj!
ixi, eu tava crente que pelo menos 2 GP´s Brasil em Interlagos com chuva iriam para a lista, mas só sobrou uma posição !!!!!!
Bom... se este não é o lider, então quem é? Agora estou em pulgas para o saber...
Gustavo,
Não posso ler este post ainda. Mas sobre o vídeo, just do it!
Abração!
Será que a 1ª posição será Hockenheim 2000?
Aquele padre merecia hein... :-)
Aí Gustavo,
Não faço idéia qual será a surpresa reservada para a 1ª colocação desta Seção...
Pelos menos umas 5 provas podem ser a 1ª, mas quase todas se assemelham, portanto, nem vou arriscar qual seja.
Sobre essa nº 2, o detalhe foi o safety-car que embolou tudo. Se fosse o Piquet no lugar do Emerson, ia levar a disputa pro tapetão da F1!!!
Abraços!!
Onde o G.P. Brasil 2003? não sei não qual vai ser o primeiro classficado.
eu arrisco inglaterra 73 brasil 003 ou argentina 95
cassio
Muito bom o vídeo nunca tinha encontrado nenhum registro visual sobre ela.Agora o mistério é saber qual será a número 1? aposto em Interlagos 2003.Será?
É lugar comum dizer que seus resumos são muito bem-feitos,mas eu digo mesmo assim:Seus resumos são muito bem feitos!
abraços
Mamma mia, q corrida maluca! Imagino narrando isso na TV! Os narradores ficariam malucos!
E eu arrisco Brasil 2003 pra primeiro lugar, mas naum to mto confiante nesse palpite...dpois vc me puxa uma corrida lah dos primordios da F-1 q naum conheço nada e fico com a kra no chão!
Ateh!
Gustavo: por causa da corrida, resolvi inspirar-me e escrever sobre ela no meu blog! Devidamente referenciado, claro...
E já agora: aproveito para te convidar a dar uma espreitadela ao blog, pois fiz um pequeno exercício de reflexão que te vai interessar...
Obrigado por todas as mensagens!
Desculpe por não responder a cada um de vocês pessoalmente, mas tive pouco tempo de computador nos últimos dias! De qualquer maneira, valeu mesmo por todas as opiniões! Na terça que vem, o grande número 1...
Grande abraço a todos,
Gustavo Coelho
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