quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Os 10+ do Blog F1 Grand Prix: Os Dez Maiores Pilotos Brasileiros da História - Número Seis

Continuamos, hoje, a última lista do ano da seção Os 10+ do Blog F1 Grand Prix. O número seis do ranking dos Dez Maiores Pilotos Brasileiros da História certamente vai render polêmica. Sem perder mais tempo, vamos em frente:

10. Gil de Ferran
9. Christian Heins
8. Ingo Hoffmann
7. Felipe Massa
SEXTO COLOCADO - José Carlos Pace

Muito antes da morte de Ayrton Senna, o automobilismo brasileiro já havia passado por uma terrível tragédia. Em meados da década de 70, quando Emerson e Wilsinho Fittipaldi lutavam contra as limitações da Copersucar, a principal esperança do país era José Carlos Pace. Infelizmente, a vitoriosa trajetória de "Moco" foi interrompida de forma abrupta, justamente quando ele estava prestes a se estabelecer como um dos pilotos de ponta da Fórmula 1.

Se este ranking levasse em conta apenas a velocidade e o talento puros, Moco estaria mais bem colocado. Quem o viu correr garante que sua habilidade era especial, do mesmo nível de seu contemporâneo Emerson Fittipaldi. Os resultados de Moco na Fórmula 1, porém, acabaram ficando muito aquém de seu potencial. É por isso que ele não vai além do sexto lugar nesta lista, embora talvez tenha sido muito melhor do que alguns que ainda vão aparecer na contagem. Sim, vocês sabem de quem estou falando.

Mas vamos voltar a Moco. Assim como Emerson e Wilsinho, ele fazia parte de uma nova "turma", que fez do autódromo de Interlagos sua segunda casa naqueles anos 60. Foi no circuito que hoje leva seu nome que Moco deu os primeiros passos na sua carreira, conquistando seus triunfos iniciais. O primeiro troféu importante veio em 1967, quando Moco venceu o brasileiro de Marcas, em dupla com outro grande nome daquele período: Luiz Pereira Bueno.

Nessa época, Moco corria pela famosa equipe Willys, formada anos antes pelo falecido Christian Heins. Na virada para a década de 70, já tendo vencido um número incontável de corridas no Brasil, Moco precisava dar o próximo passo na sua carreira: tentar a sorte na Europa. Uma aventura que parecia loucura, mas que tornara-se viável com o sucesso de Emerson.

Em 1970 - com 25 anos de idade - Moco partiu para o seu primeiro grande desafio: a Fórmula 3 Inglesa. Contrariando todas as expectativas, ele conseguiu levar o título, vencendo seis corridas no total. Lentamente, sua reputação começava a subir. No ano seguinte, Moco disputou a Fórmula 2, onde também foi muito bem. Não fosse uma sucessão de azares e problemas mecânicos, ele poderia ter até disputado o título.

Sem dúvida alguma, Moco estava pronto para a Fórmula 1. Aquele jovem alto, meio acima do peso - aliás, sua falta de preparo físico seria notória ao longo de sua carreira - ganhou sua primeira chance numa equipe pequena e honesta: a Williams. Pena que, naquela época, Frank Williams ainda estivesse muito longe da sua época de sucessos, que só viria uma quase década mais tarde.

Para Moco, correr pela Williams em 1972 revelou-se uma armadilha. O chassis do time - o March 711 - era um dos mais fracos do pelotão, e a falta de dinheiro atrapalhava o tempo todo. Conta-se que, certa vez, Moco viu Frank Williams pagar o salário de um dos mecânicos com seu próprio relógio de pulso. Mesmo assim, Moco conseguiu a proeza de pontuar duas vezes, fechando em sexto na Espanha e em quinto na Bélgica.

No G.P. de Mônaco, disputado num verdadeiro dilúvio, Moco perde a viseira e termina em último, a oito voltas do líder. Definitivamente, a sorte ainda não estava com ele. Apesar de tudo, Moco progrediu em 1973, assinando dois contratos: com a Surtees para a Fórmula 1 (recusando uma proposta da BRM), e com a Ferrari para o Mundial de Marcas. Nessa altura, Moco era considerado, por muitos, um nome certo no time de Maranello. Parecia só uma questão de tempo.

Mas não era para ser. No fim do ano, Enzo Ferrari escolhe um austríaco desconhecido e inexperiente: Niki Lauda. Ao mesmo tempo, Moco sofre com a falta de performance da Surtees. De repente, porém, as coisas mudam. O carro torna-se subitamente rápido e Moco consegue dois resultados espetaculares: um quarto em Nurburgring e um terceiro no G.P. da Áustria. Termina a temporada de 1973 com sete pontos, na 11ª colocação.

Moco continua na Surtees em 1974, mas seu relacionamento com a equipe vai se deteriorando. Diferentemente da Williams, a Surtees tinha mais dinheiro, mas era muito mais desorganizada. Moco briga com a equipe e se livra do contrato na metade do ano. É a oportunidade que a Brabham estava esperando. A partir daí, Moco estaria para sempre ligado à equipe de Bernie Ecclestone.

Nessa altura, seu temperamento já era conhecido por todos. Tímido ao extremo e quase monossilábico em suas entrevistas, Moco ganhou seu apelido por fazer "ouvidos mocos" quando alguém lhe fazia uma pergunta que ele não queria responder. Além disso, Moco também tinha um certo caráter místico em sua personalidade, exemplificada por um episódio acontecido no G.P. dos Estados Unidos de 1974.

Na noite anterior à corrida, Moco teve um sonho com o falecido pai. "Livre-se do peso da flecha, meu filho", teria ouvido Moco. Mas que flecha? Fácil: era aquela desenhada no capacete de Moco, que o acompanhava desde o início da carreira. Moco não teve dúvidas: saltou da cama e, com um gilete, raspou as pontas da flecha, que foi transformada numa simples faixa vertical. Dali em diante, Moco nunca mais correria com o "peso".

Conscidência ou não, Moco termina em segundo naquele G.P. dos Estados Unidos, conseguindo o melhor resultado de sua carreira até ali. Após marcar apenas onze pontos em 1974, a temporada de 1975 parecia promissora para Moco. Era a sua grande chance, finalmente numa equipe de ponta. Apontado como um dos candidatos ao título, Moco começa o ano em grande estilo. Quebra na abertura do campeonato, na Argentina, após liderar boa parte da prova. Algumas semanas depois, porém, a história seria diferente.

No mesmo Interlagos, onde havia começado sua carreira mais de uma década antes, Moco faz a corrida de sua vida. Larga de sexto, mas passa em terceiro já na primeira volta. Mais tarde, supera seu companheiro na Brabham, Carlos Reutemann, e conta com o abandono do líder, Jean Pierre Jarier, para vencer de forma consagradora. Emerson Fittipaldi faz a dobradinha brasileira, para delírio da indisciplinada torcida nas arquibancadas.

Naquele dia, ninguém imaginava que Moco havia atingido seu auge. Até o fim de 1975, seu melhor resultado seria apenas um segundo lugar, em Silverstone. Fecha a temporada com apenas 24 pontos, num decepcionante sexto na classificação geral. As coisas pioram mais ainda em 1976, quando Moco marca apenas sete pontos, não passando 14º no campeonato. Mesmo assim, a confiança da Brabham em Moco continua absoluta.

A temporada 1977 começa bem: no primeiro G.P. do ano, na Argentina, Moco lidera e está prestes a vencer. Mas não resiste ao calor, e perde a prova por pura falta de preparo físico. Na seqüência, Moco quebra em Interlagos e sofre com problemas de pneu na África do Sul. Mesmo assim, mostra bastante potencial. Infelizmente, todos os sonhos de Moco são interrompidos com uma tragédia chocante.

No dia 18 de março, Moco e o amigo Marivaldo Fernandes morrem num desastre aéreo em Mairiporã, na Grande São Paulo. É o fim súbito e inesperado da trajetória de Moco. Sua memória, ao menos, não seria esquecida. Algum tempo depois, o autódromo de Interlagos é rebatizado em sua homenagem. E Bernie Ecclestone cunharia uma frase que demostra toda a capacidade de Moco: "Se Pace não tivesse morrido, eu jamais teria precisado contratar Niki Lauada".

Pelo talento genuíno e espetacular, que nunca foi aproveitado em todo o seu potencial, pela emocionante vitória no Grande Prêmio do Brasil de 1975 e por tudo que realizou ao longo de sua vitoriosa carreira, José Carlos Pace leva o sexto lugar na lista dos Dez Maiores Pilotos Brasileiros da História.

O vídeo em homenagem a Moco não poderia ser outro. As imagens a seguir mostram cenas do G.P. Brasil de 1975, palco da maior vitória de sua carreira:



A seção Os 10+ do Blog F1 Grand Prix volta amanhã, com o número cinco da lista dos Dez Maiores Pilotos Brasileiros da História. E hoje, ao longo do dia, comentários sobre as principais notícias do mundo da velocidade. Até já!

Crédito das fotos (na ordem):

9 comentários:

Anônimo disse...

ihhhhh mas essa vai dar confusão. Vc vai colocar o Pace atrás do Rubinho? Se prepara porque vai vir um ataque !!!!

Anônimo disse...

Agora que li o texto, posso dizer que entendo a sua opinião mas ainda não concordo totalmente.

Mesmo não tendo conseguido grandes resultados, ainda acho o Pace maior do que o Rubinho. Melhor, isso é indiscutível. Po ele teria feito muito mais se não tivesse morrido coitado !

No mais sempre um texto excelente. Gostei das curiosidades como o relógio do Frank e o fato dele quase ter ido pra Ferrari e BRM.

A história da flecha eu já conhecida mas mesmo assim valeu o post. Já espero o Rubinho pra eu cair encima !!!!!

Anônimo disse...

Belo texto..... Temos poucas vagas e muitos pilotos.... cuidado que isso não vai acabar bem. Como grande fã do Moco só tenho a agradecer pelo texto belissimo.... Quando o Pace perdeu a corrida da Argentina por falta de preparo fisico, ele rapidamente admitiu e não procurou desculpas.... e quem ganhou a corrida foi o Jody Scheckter, com um carro da Walter Wolf Racing... uma equipe que se não me engano estrava na F1.

Fabio disse...

Um mito no imaginário dos fãs de automobilismo. Imaginário sim, pois sempre ouvi meu pai contar do dia em que ele saiu do Rio até SP, dormindo em baixo de caminhão de equipe pra ver o GP Brasil de 1975.

Quando esbocei a lista na minha cabeça coloquei-o na frente do Rubens, mas sei que estou prestes a ser convencido do contrário.

Abraço!

Anônimo disse...

a um tempo que eu não vinha aqui, então perdi o começo da lista. mas já recuperei e até agora concordo com a maioria. só que que nem o rio kart em colocaria o rubinho atrás do pace, mesmo o pace fazendo muito menos significou mais na minha opinião.

Anônimo disse...

Ótimo Post!!!

O Pace virou nome do circuito do mais importante autódromo do país. Não precisaria dizer mais nada. Não precisaria, mas você disse... e disse muito bem!!!

Você está cada vez melhor na colocação da história, principalmente nas curiosidades relatadas, além, é claro, do relato da carreira do piloto, destacando sempre o início difícil que esses pilotos listados até agora tiveram em galgar posições e terem se tornado referência automobilística nacional.

“Ouvidos mocos”, “O relógio do Frank dado em pagamento”, “perda da viseira”, o “sonho do peso da flecha”, e outras tantas histórias fazem deste post uma boa recordação do Pace.

Grande, grande abraço!!!

PS: Gustavo, você vai ter que me fazer emocionar, chorar mesmo, para me convencer que o Rubinho merece estar nessa lista, ainda mais na frente dessa turma listada até agora... hehehehe.... de qualquer maneira, a maçaranduba já está na mão.... hehehehe.

robalo disse...

Caraaaaaaaaca... Esse negócio de listar os "10 maiores" não parece nada fácil. Mais fácil seria, talvez, apontar os 10 melhores. Existiriam critérios mais palpáveis, menos discutíveis, embora não absolutos... Rsss

Muito bom o texto a respeito do Pace, cheio de curiosidades, um retrato perfeito da vida do piloto...

Vejo alguns colegas no blog ensaiando uma reprovação em relação à posição que o Barrica assumirá. Respeito tais opiniões !!

Entretanto, eu, particularmente, embora reconheça toda dificuldade por que passou o Moco, embora saiba o que ele representa para muitos no Brasil, ainda assim eu não o colocaria na frente do Barrica, tampouco do Ingo Hoffmann.

Sei que não é definitiva toda e qualquer lista que tenha o intuito de apontar os 10 maiores, até mesmo porque os pilotos, principalmente os mais novos, terão condições de subir nesta lista, pois ainda estão evoluindo... O Massa, por exemplo, é um dos que eu incluo nessa possibilidade.

Mas a idéia de evolução dos pilotos não pode ser aplicada como regra perfeita a um veterano como o Ingo Hoffmann, a despeito de toda garra e competitividade que ele ainda mostra.

Portanto, ao aceitarmos o Pace na frente do "Dinossauro Ingo" (que tem inúmeros títulos e ainda continua plenamente competitivo), parece que estamos condenando o nosso "alemão" a assumir essa posição eternamente...

Acho que nenhuma lista dos "10 maiores" jamais será unânime, em termos de opinião, pois sempre restará muito espaço para a subjetividade, o que parece muito legal, pois estamos mesmo submersos neste mundo de idéias...

É isso aí...

Abçs!!

Blog F1 Grand Prix disse...

Obrigado por todas as mensagens!

Até que vocês foram bonzinhos comigo hoje! Mas sei que ainda vai ter mais polêmica antes da lista acabar...

Grande abraço a todos!

Gustavo Coelho

Anônimo disse...

Não sei pq todo esse fuzuê por causa do Rubinho. Impressionante como se preocupam em metralhar o cara... Querendo ou não, o Barrichello é top 4 dos pilotos brasileiros da história.