domingo, 22 de julho de 2007

Uma corrida para guardar na memória

Teve de tudo no Grande Prêmio da Europa.

Teve chuva no exato momento da largada. Teve piloto postulante ao título sem conseguir fazer a curva para entrar no box.

Teve seis carros rodando, ao mesmo tempo, na mesma curva. E um deles voltando à pista com o auxílio de um guindaste.

Teve um piloto estreante, correndo em casa, com o pior carro do grid, liderando o Grande Prêmio na segunda volta depois de ter largado em último. Ele teve sorte e depois azar. Seu motor quebrou na 13ª volta.

Teve bandeira vermelha. Teve atraso. Teve uma corrida empolgante após o seu recomeço, indefinida até o final. Teve piloto botando pneus de chuva antes de começar a chover. Teve chuva de novo.

E mais troca de pneus. Teve Nick Heidfeld tirando dois pilotos da pista, fazendo seis pit stops e, mesmo assim, chegando nos pontos. Teve o segundo podium da carreira de Mark Webber.

Teve um duelo espetacular entre os dois primeiros colocados. E discussão entre a dupla, mais tarde, depois da corrida. Teve Michael Schumacher entregando troféu com uma roupa absolutamente ridícula.

Ah, e teve Lewis Hamilton terminando fora dos pontos. Finalmente.

Com apenas três voltas completadas, eu já tinha aquela sensação de estar testemunhando uma corrida histórica. Daquelas que merecem ser guardadas, com carinho, por qualquer fã do automobilismo. O Grande Prêmio da Europa, com toda a certeza, foi um dos melhores deste século XXI.

No momento da largada, quem via pela televisão não poderia supor o dilúvio que cairia sobre Nurburgring apenas alguns segundos depois. Ao que parece, os pilotos e as equipe também não. Tanto que saíram, todos, com pneu de seco.

Menos Markus Winkelhock. Sim, justamente ele, estreante na Fórmula 1 pela Spyker, a escuderia mais fraca do pelotão e, ainda por cima, correndo em casa. Quando os carros se alinhavam no grid, o alemão foi para os boxes e colocou pneus de chuva. Tacada de mestre.

Os pilotos largaram e, ao chegarem à primeira curva, já sentiram o sabão. Todo mundo escorregou, mas ninguém saiu da pista. Felipe Massa saiu bem e passou, logo de cara, Fernando Alonso. Ao mesmo tempo, Nick Heidfeld batia no companheiro Robert Kubica, fazendo o polonês rodar.

E Lewis Hamilton, que largara de décimo, já era o quarto na segunda curva. Mas, por um azar gigantesco, sua roda traseira esquerda raspou no aerofólio da BMW de Kubica, no momento em que o piloto da BMW rodava. Isso causou um rasgo no pneu do inglês, que perdeu um tempo enorme.

Imediatamente, o pelotão inteiro encaixotou atrás de Hamilton. E não deu outra. Mais toque. David Coulthard, Rubens Barrichello e Nico Rosberg foram alguns dos que saíram da pista antes do fim da primeira volta. Mas todos conseguiram voltar.

Quando o pelotão alcançou o último setor, deparou-se com um paredão de água. Todos se dirigiram aos boxes. Menos Kimi Raikkonen, que errou e não conseguiu fazer a curva para entrar no pit lane.

Agora a água caía para valer. Sem que ninguém notasse, Winkelhock liderava com boa distância. E Jenson Button, que largara lá de 17º, era o quarto. Mas o piloto da Honda jogaria tudo fora no início da terceira volta.

No grampo, ao final da reta de largada, Jenson rodou e ficou parado no brita. Não foi o único. Logo depois, aquaplanaram Lewis Hamilton, Nico Rosberg, Adrian Sutil, Scott Speed e Vitantonio Liuzzi. Todos saíram da pista e, aparentemente, teriam de abandonar.

Mas Hamilton não desistiu. Ajudado por um guindaste, o piloto da McLaren foi tirado da brita e recolocado na pista. Já era, porém, o último dos pilotos ainda na corrida. A situação era perigosa, e a direção acertou ao dar a bandeira vermelha.

Intervalo de aproximadamente trinta minutos. Quando a corrida recomeçou, a chuva já havia parado e a pista ia secando. Felipe Massa logo tomou a ponta de Markus Winkelhock, com Fernando Alonso, Mark Webber, Heikki Kovalainen e Kimi Raikkonen logo atrás.

O piloto da Spyker, coitado, cairia para oitavo ao final dessa volta, incapaz de segurar o ímpeto do pelotão com sua carroça laranja. Na frente, Raikkonen sofria para passar Webber e Kovalainen. Mas acabou conseguindo, e subiu para terceiro.

Não era, porém, o dia de Kimi. O azar do finlandês, tão comentado e ultimamente sumido, deu as caras de novo e tirou o piloto da Ferrari da corrida em razão de um problema eletrônico. Sem sorte, também, está Ralf Schumacher. O alemão era nono quando foi abalroado por Nick Heidfeld. Tivesse terminado a corrida, o piloto da Toyota certamente faturaria alguns pontos.

O Grande Prêmio parecia encaminhado, com Massa na frente de Alonso. Até que, a menos de dez voltas do final, a chuva voltou. E, com ela, nova rodada de paradas não programadas. Na pista molhada, o duelo entre os líderes ganhava contornos completamente diferentes.

Fernando Alonso foi para cima de Felipe Massa. E, após um duelo que durou mais de uma volta inteira e incluiu até um toque, o espanhol finalmente conseguiu a ultrapassagem. Uma vez na liderança, o piloto da McLaren não a perderia mais.

Alonso venceu, com Massa em segundo. Ao final da corrida, um gesto polêmico do espanhol, desaprovando uma manobra do brasileiro, despertou a ira do piloto da Ferrari. Os dois discutiram antes do podium, na frente de milhões de espectadores. Nasce uma nova rivalidade na Fórmula 1.

Em terceiro, terminou Mark Webber, que conseguiu o segundo podium de sua carreira ao segurar Alexander Wurz nas curvas finais. O austríaco, mesmo assim, salvou um ótimo quarto, fortalecendo sua superioridade em pontos sobre o companheiro de Williams, Nico Rosberg.

Logo depois, vieram David Coulthard - um bom quinto, ajudado por sua experiência - e a dupla da BMW, com Nick Heidfeld à frente de Robert Kubica. Heikki Kovalainen, com uma estúpida tática de colocar pnes de chuva antes que, acreditem, chovesse, ainda foi oitavo, fechando a zona de pontuação.

Lewis Hamilton fez boa corrida após seu erro do início. Perdeu os pontos por pouco: foi nono. Giancarlo Fisichella não passou de décimo e Rubens Barrichello, que sofreu horrores com sua Honda, terminou em 11º. Completando a classificação, vieram Anthony Davidson e Jarno Trulli, em 12º e 13º, respectivamente.

A tabela do campeonato ficou embolada com o mau resultado de Lewis Hamilton. O inglês tem 70 e ainda lidera, mas Fernando Alonso já está colado, com 68. Felipe Massa não vem longe, com 59, enquanto Kimi Raikkonen ficou um pouco para trás, com 51.

O Grande Prêmio da Europa foi daquelas corridas que a gente precisa ver mais de uma vez para entender tudo o que aconteceu. Deve ser guardada na memória. Infelizmente, enquanto a chuva não der as caras de novo numa etapa da Fórmula 1, dificilmente poderemos esperar tanta emoção. Mas Spa-Francorchamps vem aí, ole, ole, olá.

A seguir, a classificação da corrida e a tabela dos campeonatos:

1. Fernando Alonso/Espanha/McLaren, 60 voltas em 2h06:26.358s
2. Felipe Massa/Brasil/Ferrari, a 8.155s
3. Mark Webber/Austrália/Red Bull, a 1:05.674s
4. Alex Wurz/Áustria/Williams, a 1:05.937s
5. David Coulthard/Escócia/Red Bull, a 1:13.656s
6. Nick Heidfeld/Alemanha/BMW-Sauber, a 1:20.298s
7. Robert Kubica/Polônia/BMW-Sauber, a 1:22.415s
8. Heikki Kovalainen/Finlândia/Renault, a 1 volta
9. Lewis Hamilton/Inglaterra/McLaren, a 1 volta
10. Giancarlo Fisichella/Itália/Renault, a 1 volta
11. Rubens Barrichello/Brasil/Honda, a 1 volta
12. Anthony Davidson/Inglaterra/Super Aguri, a 1 volta
13. Jarno Trulli/Itália/Toyota, a 1 volta
Não terminaram:
Kimi Raikkonen/Finlândia/Ferrari, Problemas Eletrônicos na volta 34
Takuma Sato/Japão/Super Aguri, Problemas Mecânicos na volta 19
Ralf Schumacher/Alemanha/Toyota, Acidente na volta 18
Markus Winkelhock/Alemanha/Spyker, Motor na volta 13
Jenson Button/Inglaterra/Honda, Saída de pista na volta 2
Adrian Sutil/Alemanha/Spyker, Saída de pista na volta 2
Nico Rosberg/Alemanha/Williams, Saída de pista na volta 2
Scott Speed/Estados Unidos/Toro Rosso, Saída de pista na volta 2
Vitantonio Liuzzi/Itália/Toro Rosso, Saída de pista na volta 2

Campeonato de Pilotos:
HAMILTON, 70 pts; Alonso, 68; Massa, 59; Raikkonen, 52; Heidfeld, 36; Kubica, 24; Fisichella, 17; Kovalainen, 15; Wurz, 13; Webber e Coulthard, 8; Trulli, 7; Rosberg, 5; Sato, 4; Schumacher, 2; Button e Vettel, 1; Barrichello, Liuzzi, Speed, Davidson, Albers, Sutil e Winkelhock, 0.

Campeonato de Construtores:
MCLAREN, 138 pts; Ferrari, 111; BMW, 61; Renault, 32; Williams, 18; Red Bull, 16; Toyota, 9; Super Aguri, 4; Honda, 1; Toro Rosso e Spyker, 0.

O Blog volta daqui a pouco com a sessão Análise do Grande Prêmio. Até já!

7 comentários:

Anônimo disse...

belo texto! Essa corrida também não vou esquecer tão cedo.

Anônimo disse...

Amigo, concordo em grande parte com o que você escreveu. Acho que o Felipe teve algum problema no carro no final. O Alonso só passou ele por causa disso, porque não é possível que o Felipe seja tão ruim assim correndo na chuva.

Speeder76 disse...

Agora a grande polémica nas minhas bandas é saber se o Hamilton deveria ser desclassificado pelo facto de o terem tirado da gravilha e ter voltado à corrida.

Ora, depois de ter lido o regulamento, verifico que isso é possivel, desde que tenha o carro em ponto morto e a funcionar. Tá a aprender umas coisas com o "tio Ron"...

Anônimo disse...

A corrida foi mto boa msm! Eu geralmente costumo gravar as 3 primeiras voltas, a ultima e o pódio, mas me empolguei e gravei a corrida toda!
Infelizmente, Massa perdeu pts bobos de novo. Será q foi aquela mudança que o Alonso pediu qndo trocou os pneus para chuva pela ultima vez q fez toda a diferença?

Blog F1 Grand Prix disse...

Leandro,

Eu também reparei nesta mudança de acerto que o Alonso fez na sua parada final. Deve ter feito alguma diferença mas, na minha opinião, o fundamental mesmo foi a extrema habilidade do espanhol em pista molhada. Alonso realmente é muito bom na chuva.

Grande abraço!

Anônimo disse...

porra vibrei muito com essa corrida. aquelas primeiras quatro voltas, acho foram emocionantes. o galvão e o reginaldo ficaram perdidos na transmissão e não perceberam que o cara da spyker já tinha pneus de chuva. pena que a chuva no final não foi aquela tromba d'água do início, aí teria sido ainda melhor.

Felipe Maciel disse...

A única vez que vi o Rubinho na corrida foi quando ele tomou uma ultrapassagem linda do Fisico por fora na chicane do 3º setor. Apagado demais...

Eu bem me lembrou que o Massa tava um pouco mais rápido que o Alonso quando a chuva caiu no início da prova. Esse negócio de vibração no pneu deve ser verdade, afinal seria uma desculpa muito boa. Nunca vi ninguém usar essa.

E finalmente deu tudo errado pro Hamilton. 2 pontos a frente do Alonso. Agora quero vero que vai acontecer.