Nesta terça, como de costume, temos a primeira das três edições semanais da sessão Os 10+ do Blog F1 Grand Prix. Nossa lista atual fala das Dez Maiores Performances Individuais de Todos os Tempos. Atuações memoráveis, que estão gravadas na memória de qualquer fã do automobilismo. Sem perder mais tempo, vamos ao que interessa:
10. Michael Schumacher – Espanha/1996
NONA COLOCADA – Damon Hill, Grande Prêmio da Hungria de 1997
Poucos pilotos da Fórmula 1 foram e continuam sendo, até hoje, tão subestimados como Damon Hill. Para muitos, o filho de Graham, lenda dos tempos românticos da Fórmula 1 da década de 60, não chega nem perto do nível do pai.
Quando se discute qual teria sido o pior campeão da história, Damon Hill é logo um nome que vem à mente. Mas será que essa lembrança é realmente justa? Seria o inglês alguém realmente ruim? Apenas um sortudo que, de posse do melhor carro do grid, viu cair no seu colo um título da Fórmula 1?
Em 1996, Hill venceu aquele que seria seu único campeonato com uma equipe muito superior à concorrência, a Williams. Ganhou mas não convenceu. Para a maioria dos jornalistas especializados, a conquista se devia muito mais em razão da excelência técnica do carro do que por um desempenho acima da média de Damon.
Essa impressão foi ainda mais reforçada quando, ao fim do ano, o inglês foi simplesmente dispensado pelo dono da equipe, Frank Williams. Na condição de campeão, Hill entrava em desgraça. Todos os times grandes estavam com as portas fechadas para ele.
O inglês teria de recomeçar. Seduzido pelo discurso de Tom Walkinshaw – uma espécie de Flavio Briatore que não deu certo – Damon assinou com a Arrows para a temporada de 1997. Um erro catastrófico. O carro não andava e, pior, não tinha a menor confiabilidade.
Logo na estréia pelo time, no G.P. da Austrália, Hill quebrou na volta de apresentação, depois de quase não ter conseguido tempo para largar na classificação. As coisas iam de mal a pior. A partir da metade da temporada, porém, o ritmo do carro começou a melhorar um pouco.
Com a evolução, veio o primeiro ponto de Damon e da Arrows no ano, justamente na terra natal de ambos, a Inglaterra. Em Silverstone, Hill foi sexto, um excelente resultado para quem dispunha de um carro de final de pelotão. Na corrida seguinte, na Alemanha, o inglês foi oitavo.
Nada indicava o que viria no G.P. seguinte, na Hungria. O circuito de Hungaroring, para Damon, tinha um significado especial. Ali, em 1993, ele havia vencido pela primeira vez na Fórmula 1. Pelo seu conhecimento da pista, Hill tinha a esperança de conquistar mais alguns pontinhos. Fez muito mais do que isso.
Arrisco dizer que ninguém – talvez nem o inglês – esperava um desempenho tão espetacular. Mas, já no sábado, Damon se mostrava em excepcional forma. Foi terceiro no grid, atrás apenas dos dois postulantes ao título. Jacques Villeneuve era o primeiro, com Michael Schumacher em segundo.
Na largada, o canadense saiu muito mal e perdeu toda a vantagem da pole, caindo para quinto ao final da primeira volta. Na ponta estava Schumacher, com Hill logo atrás. Os dois líderes eram mais rápidos do que o terceiro colocado, Eddie Irvine. Rapidamente, a dupla abriu vantagem para o irlandês, que segurava o pelotão atrás de si.
Durante várias voltas, Damon apenas seguiu Michael. Não demorou muito, porém, para o inglês notar que os seus pneus Bridgestone funcionavam bem melhor do que os Goodyear do alemão. Bolhas começaram a se formar na borracha de Schumacher, e o piloto da Ferrari começou a perder rendimento.
Hill colou em seu velho rival e planejou a manobra. No início da volta 11, ao fim da reta dos boxes, Damon realizou a ultrapassagem com autoridade. Schumacher ainda tentou resistir, empurrando o inglês para a parte de dentro da curva. Mas não houve jeito.
Contrariando todos os prognósticos, Hill era o novo líder. E, não demorou muito, começou a colocar vantagem sobre Schumacher e todos os outros pilotos que viam atrás. Logo Damon – o “pior campeão da história” – e com um carro que era reconhecidamente uma carroça!
Durante toda a corrida, Hill dominou amplamente, com um ritmo nem de perto seguido pelos seus adversários. Enquanto eles sofriam com o calor e a instabilidade dos pneus Goodyear, Damon parecia completamente à vontade com os Bridgestone. Será que o inglês conseguiria manter-se na frente até o final?
Atrás do líder, as posições continuavam indefinidas. Heinz-Harald Frentzen, provavelmente o piloto mais rápido do pelotão após Hill, teve problemas e abandonou. Seu companheiro de equipe, Jacques Villeneuve, encontrava enormes dificuldades para se livrar dos carros mais lentos.
Finalmente, porém, o canadense fez valer a superioridade de seu equipamento e tomou o segundo lugar. Em terceiro, após um ótimo desempenho, aparecia Johnny Herbert, com uma Sauber. A corrida ia terminando e nada indicava que Damon e a Arrows poderiam perder seu primeiro triunfo juntos.
Mas o automobilismo, por mais que muitos digam ao contrário, ainda é um esporte completamente imprevisível. Quando faltavam menos de três voltas para o final, as coisas começaram a dar errado para Hill e sua equipe. O carro da Arrows tinha sérios problemas hidráulicos.
Pelo rádio, a equipe manda Damon passar para a quinta marcha. Assim, manteria uma velocidade de reta alta, suficiente para não deixar os rivais chegarem perto. Mas não havia mais pressão hidráulica suficiente.
O máximo que Hill consegue fazer é trocar de segunda para terceira marcha. Na volta 75 de 77, Jacques Villeneuve recupera nove segundos de diferença. No giro seguinte, vinte. A vitória de Damon estava perdida.
O piloto da Arrows ainda abre a última volta na frente. Mas o canadense já está logo atrás dele. Na subida para o setor mais sinuoso do circuito de Hungaroring, Hill ginga com seu carro de um lado para o outro, numa tentativa desesperada de recuperar o sistema.
Villeneuve, que vem rápido demais, precisa colocar duas rodas na grama para passar o inglês. Consegue, mas quase coloca tudo a perder. Vitória para o canadense. Atrás dele, Damon luta com o carro, mas ainda termina em segundo. Considerando as colocações que vinha tendo, um resultado extraordinário.
Mas Hill, é claro, não está satisfeito. Na volta de desaceleração, o inglês soca o volante do carro, inconformado com a má sorte. Não venceu, mas seu desempenho ficou marcado. Ainda hoje, não dá para entender como Damon conseguiu andar tão bem naquele dia.
Até o fim da temporada, nem Hill nem a Arrows chegaram perto de repetir a atuação no G.P. da Hungria. Qual seria a desculpa dos críticos, então, para justificar uma performance tão espetacular? O bom funcionamento dos pneus Bridgestone certamente não explica tudo. Afinal, quatro dos seis primeiros usavam Goodyear.
A verdade é que Damon é, sim, um dos grandes nomes da história da Fórmula 1. Na estatística de vitórias, Hill está em décimo lugar na lista dos que mais triunfaram. Não é pouca coisa não. Pena que muitos não saibam reconhecer.
Pela ampla superioridade naquele dia, por causa de seu ritmo alucinante durante toda a corrida e pelo desempenho absolutamente extraordinário com um carro de final de pelotão, Damon Hill leva o nono lugar na lista das Dez Maiores Performances Individuais de Todos os Tempos.
A seguir, um vídeo das dramáticas voltas finais daquela corrida. Infelizmente, só achei com a narração em alemão:
A sessão Os 10+ do Blog F1 Grand Prix volta amanhã, com o número oito da nossa lista. Logo mais – se a conexão de Internet por telefone permitir - o Blog retorna comentando as principais notícias do dia. Até mais!
10. Michael Schumacher – Espanha/1996
NONA COLOCADA – Damon Hill, Grande Prêmio da Hungria de 1997
Poucos pilotos da Fórmula 1 foram e continuam sendo, até hoje, tão subestimados como Damon Hill. Para muitos, o filho de Graham, lenda dos tempos românticos da Fórmula 1 da década de 60, não chega nem perto do nível do pai.
Quando se discute qual teria sido o pior campeão da história, Damon Hill é logo um nome que vem à mente. Mas será que essa lembrança é realmente justa? Seria o inglês alguém realmente ruim? Apenas um sortudo que, de posse do melhor carro do grid, viu cair no seu colo um título da Fórmula 1?
Em 1996, Hill venceu aquele que seria seu único campeonato com uma equipe muito superior à concorrência, a Williams. Ganhou mas não convenceu. Para a maioria dos jornalistas especializados, a conquista se devia muito mais em razão da excelência técnica do carro do que por um desempenho acima da média de Damon.
Essa impressão foi ainda mais reforçada quando, ao fim do ano, o inglês foi simplesmente dispensado pelo dono da equipe, Frank Williams. Na condição de campeão, Hill entrava em desgraça. Todos os times grandes estavam com as portas fechadas para ele.
O inglês teria de recomeçar. Seduzido pelo discurso de Tom Walkinshaw – uma espécie de Flavio Briatore que não deu certo – Damon assinou com a Arrows para a temporada de 1997. Um erro catastrófico. O carro não andava e, pior, não tinha a menor confiabilidade.
Logo na estréia pelo time, no G.P. da Austrália, Hill quebrou na volta de apresentação, depois de quase não ter conseguido tempo para largar na classificação. As coisas iam de mal a pior. A partir da metade da temporada, porém, o ritmo do carro começou a melhorar um pouco.
Com a evolução, veio o primeiro ponto de Damon e da Arrows no ano, justamente na terra natal de ambos, a Inglaterra. Em Silverstone, Hill foi sexto, um excelente resultado para quem dispunha de um carro de final de pelotão. Na corrida seguinte, na Alemanha, o inglês foi oitavo.
Nada indicava o que viria no G.P. seguinte, na Hungria. O circuito de Hungaroring, para Damon, tinha um significado especial. Ali, em 1993, ele havia vencido pela primeira vez na Fórmula 1. Pelo seu conhecimento da pista, Hill tinha a esperança de conquistar mais alguns pontinhos. Fez muito mais do que isso.
Arrisco dizer que ninguém – talvez nem o inglês – esperava um desempenho tão espetacular. Mas, já no sábado, Damon se mostrava em excepcional forma. Foi terceiro no grid, atrás apenas dos dois postulantes ao título. Jacques Villeneuve era o primeiro, com Michael Schumacher em segundo.
Na largada, o canadense saiu muito mal e perdeu toda a vantagem da pole, caindo para quinto ao final da primeira volta. Na ponta estava Schumacher, com Hill logo atrás. Os dois líderes eram mais rápidos do que o terceiro colocado, Eddie Irvine. Rapidamente, a dupla abriu vantagem para o irlandês, que segurava o pelotão atrás de si.
Durante várias voltas, Damon apenas seguiu Michael. Não demorou muito, porém, para o inglês notar que os seus pneus Bridgestone funcionavam bem melhor do que os Goodyear do alemão. Bolhas começaram a se formar na borracha de Schumacher, e o piloto da Ferrari começou a perder rendimento.
Hill colou em seu velho rival e planejou a manobra. No início da volta 11, ao fim da reta dos boxes, Damon realizou a ultrapassagem com autoridade. Schumacher ainda tentou resistir, empurrando o inglês para a parte de dentro da curva. Mas não houve jeito.
Contrariando todos os prognósticos, Hill era o novo líder. E, não demorou muito, começou a colocar vantagem sobre Schumacher e todos os outros pilotos que viam atrás. Logo Damon – o “pior campeão da história” – e com um carro que era reconhecidamente uma carroça!
Durante toda a corrida, Hill dominou amplamente, com um ritmo nem de perto seguido pelos seus adversários. Enquanto eles sofriam com o calor e a instabilidade dos pneus Goodyear, Damon parecia completamente à vontade com os Bridgestone. Será que o inglês conseguiria manter-se na frente até o final?
Atrás do líder, as posições continuavam indefinidas. Heinz-Harald Frentzen, provavelmente o piloto mais rápido do pelotão após Hill, teve problemas e abandonou. Seu companheiro de equipe, Jacques Villeneuve, encontrava enormes dificuldades para se livrar dos carros mais lentos.
Finalmente, porém, o canadense fez valer a superioridade de seu equipamento e tomou o segundo lugar. Em terceiro, após um ótimo desempenho, aparecia Johnny Herbert, com uma Sauber. A corrida ia terminando e nada indicava que Damon e a Arrows poderiam perder seu primeiro triunfo juntos.
Mas o automobilismo, por mais que muitos digam ao contrário, ainda é um esporte completamente imprevisível. Quando faltavam menos de três voltas para o final, as coisas começaram a dar errado para Hill e sua equipe. O carro da Arrows tinha sérios problemas hidráulicos.
Pelo rádio, a equipe manda Damon passar para a quinta marcha. Assim, manteria uma velocidade de reta alta, suficiente para não deixar os rivais chegarem perto. Mas não havia mais pressão hidráulica suficiente.
O máximo que Hill consegue fazer é trocar de segunda para terceira marcha. Na volta 75 de 77, Jacques Villeneuve recupera nove segundos de diferença. No giro seguinte, vinte. A vitória de Damon estava perdida.
O piloto da Arrows ainda abre a última volta na frente. Mas o canadense já está logo atrás dele. Na subida para o setor mais sinuoso do circuito de Hungaroring, Hill ginga com seu carro de um lado para o outro, numa tentativa desesperada de recuperar o sistema.
Villeneuve, que vem rápido demais, precisa colocar duas rodas na grama para passar o inglês. Consegue, mas quase coloca tudo a perder. Vitória para o canadense. Atrás dele, Damon luta com o carro, mas ainda termina em segundo. Considerando as colocações que vinha tendo, um resultado extraordinário.
Mas Hill, é claro, não está satisfeito. Na volta de desaceleração, o inglês soca o volante do carro, inconformado com a má sorte. Não venceu, mas seu desempenho ficou marcado. Ainda hoje, não dá para entender como Damon conseguiu andar tão bem naquele dia.
Até o fim da temporada, nem Hill nem a Arrows chegaram perto de repetir a atuação no G.P. da Hungria. Qual seria a desculpa dos críticos, então, para justificar uma performance tão espetacular? O bom funcionamento dos pneus Bridgestone certamente não explica tudo. Afinal, quatro dos seis primeiros usavam Goodyear.
A verdade é que Damon é, sim, um dos grandes nomes da história da Fórmula 1. Na estatística de vitórias, Hill está em décimo lugar na lista dos que mais triunfaram. Não é pouca coisa não. Pena que muitos não saibam reconhecer.
Pela ampla superioridade naquele dia, por causa de seu ritmo alucinante durante toda a corrida e pelo desempenho absolutamente extraordinário com um carro de final de pelotão, Damon Hill leva o nono lugar na lista das Dez Maiores Performances Individuais de Todos os Tempos.
A seguir, um vídeo das dramáticas voltas finais daquela corrida. Infelizmente, só achei com a narração em alemão:
A sessão Os 10+ do Blog F1 Grand Prix volta amanhã, com o número oito da nossa lista. Logo mais – se a conexão de Internet por telefone permitir - o Blog retorna comentando as principais notícias do dia. Até mais!
4 comentários:
ótima escolha, blog. quero ver aonde esta lista vai acabar.
Senna, em Donnington Park?
Bela escolha! Lembro que nesse ano meus pais resolveram me colocar no catecismo e consequentemente naum podia ver as corridas de F-1 (eu via quando ainda era criança!). E lembro quando cheguei em ksa e vi um lembrete do meu pai falando q Hill tinha dominado a corrida mas teve problemas e foi ultrapassado justo na ultima volta! Fiquei com pena pq era anti-Schumacher na época e gostava do Hill justamente por ter conseguido ganhar um titulo em cima do Schumi.
Ainda bem q ele resolveu ir pra Jordan, pelo menos deu pra melhorar um pouquinho, rs
Excelente lembrança! Automobilismo tem dessas coisas inacreditáveis...
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