quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Os 10+ do Blog F1 Grand Prix: Os Dez Maiores Pilotos Brasileiros da História - Número 9

Continuamos, hoje, a última lista do ano da seção Os 10+ do Blog F1 Grand Prix. Como a Fórmula 1 está de férias, o melhor mesmo é falar de um assunto bastante polêmico: os Dez Maiores Pilotos Brasileiros da História. Sem perder mais tempo, vamos continuar:

10. Gil de Ferran
NONO COLOCADO - Christian Heins

Quem? Provavelmente, essa é a pergunta que muitos de vocês estão se fazendo neste exato momento. Um ícone do automobilismo brasileiro das décadas de 50 e 60, Christian Heins não entrou para a história como deveria. Apesar da enorme fama que alcançou no auge de sua competitividade, "Bino" - como era conhecido por todos - foi quase esquecido ao longo dos anos.

Christian Heins não está nesta lista apenas por causa de seus feitos e de suas vitórias. Mais do que isso: sua presença é necessária por tudo que ele representa. Símbolo de uma época em que era praticamente impossível para um piloto brasileiro fazer carreira fora do país, Bino foi vital para a sobrevivência do esporte a motor no Brasil. Dentro da pista, ele já era um dos mais respeitados.

E, fora dela, montou uma estrutura que facilitou imensamente os primeiros passos das carreiras de nomes como os irmãos Fittipaldi, José Carlos Pace, Ingo Hoffmann e até Nelson Piquet. Lembre-se que essa lista é a dos maiores, e não dos melhores pilotos brasileiros da história. Julgar a capacidade de Bino Heins dentro de um carro é muito difícil. Por tudo o que fez pelo esporte, porém, ele não poderia ficar ausente.

A trajetória de Christian Heins começa no dia 16 de janeiro de 1935, quando ele nasceu no bairro do Brooklin Paulista, em São Paulo. Filho de um bem-sucedido empresário de origem alemã e de uma italiana, Bino já demonstrava interesse pela mecânica desde criança. Como o automobilismo apenas engatinhava no Brasil, porém, ele foi obrigado a retardar o início de sua carreira, assim como todos os outros pilotos daquela época.

Sua estréia em competições aconteceu em maio de 1954, quando Bino resolveu se inscrever numa prova em Interlagos. De início, ele chamado de "Cometa", em virtude de sua impressionante velocidade. Logo depois, ganhou o apelido "Bino" - uma abreviatura de "Bambino" - por conta de sua mãe italiana. Esse nome iria lhe acompanhar pelo resto de sua vida.

Em 1956, aos 21 anos de idade, Bino participou da histórica primeira edição da Mil Milhas Brasil. Correndo com um VW Sedan, ele terminou na segunda posição, em dupla com outro grande nome do automobilismo daquele tempo: Eugênio Martins. Os adversários, em sua maioria, participaram com as chamadas "carreteiras", carros velhos mas equipados com motores de mais de 250 cavalos.

Um ano após conquistar o vice-campeonato na Mil Milhas, Bino partiu para a Alemanha. Indicado pelo presidente da Mahle no Brasil, ele conseguiu uma vaga na fábrica da Porsche, em Stuttgart. A princípio, seu trabalho era mecânico. Não demorou muito, porém, e Bino ganhou uma oportunidade como piloto da marca alemã. Era o início de sua fama.

Entre 1957 e 1960, Bino competiu em várias provas importantes da Europa, sempre conquistando resultados de relevância. Nesse período, ele chegou a correr em algumas das maiores pistas da história, como Nurburgring, na Alemanha, e Spa-Francorshamps, da Bélgica. De repente, Bino alcançou o status de ídolo nacional, ilustrado por um episódio curioso, ocorrido numa de suas voltas da Europa.

Ao passar pela alfândega do aeroporto de São Paulo, Bino teve apreendidos todos os seus troféus, já que eles não tinham nota fiscal. Irritada com a situação, a irmã de Bino - Ornella - enviou uma mensagem ao próprio presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek. Por incrível que pareça, JK respondeu, pedindo desculpas pela apreensão e classificando Bino como um "monumento nacional".

De fato, naquele tempo, a importância de Bino no esporte brasileiro só era igualada por duas outras personalidades: Maria Ester Bueno, no tênis, e Pelé, no futebol. Terminado o período com a Porsche, em 1960, Bino retornou ao Brasil, passando a se dedicar de vez às competições nacionais. Logo de cara, neste mesmo ano, ele venceu a Mil Milhas Brasil, em dupla com ninguém menos do que o lendário Chico Landi.

Um ícone dentro das pistas, Bino também viria a se tornar uma figura fundamental nos bastidores quando passou a coordenar o Departamento de Competições da Willys, em 1962. Com o desenvolvimento da equipe, Bino deu condições a vários jovens que desejavam seguir carreira no automobilismo. Pela primeira vez, graças aos seus esforços, a carreira de "piloto profissional" passou a ter valor no Brasil.

Já consagrado como piloto e obtendo bastante sucesso como chefe de equipe, Bino pensava em se aposentar em meados de 1963. Foi aí que ele recebeu um convite da Alpine para disputar nada menos do que as 24 horas de Le Mans. Era uma oferta irrecusável, e Bino naturalmente aceitou. Seu plano era participar da corrida e depois aproveitar algumas semans de férias na Europa, com a esposa.

No dia 15 de junho, Bino largou para a legendária corrida. Às 20:20, quando ocupava a primeira posição na categoria 700 a 1000cc e o terceiro lugar no geral, Bino se deparou com uma imensa mancha de óleo na pista. Seu carro rodou, atingiu outro que também havia saído da pista, capotou várias vezes, chocou-se com um poste e, por fim, pegou fogo. Bino foi levado com urgência ao hospital mas, infelizmente, não resistiu.

Sua morte foi um grande baque para o automobilismo nacional. Mesmo assim, Bino deixou muito bem organizada a equipe Willys no Brasil, que seria peça fundamental no início das trajetórias dos irmãos Fittipaldi, de José Carlos Pace e Ingo Hoffmann. O sucesso da Willys, entre outros fatores, gerou um público cativo para o esporte a motor no país. E foram justamente dessas competições quase amadoras que surgiram outros nomes famosos, como Nelson Piquet e Alex Dias Ribeiro.

Bino Heins pode não ser um dos pilotos mais conhecidos da história do automobilismo nacional, mas sua importância para o desenvolvimento do esporte no Brasil é incalculável. Além disso, Bino também foi um piloto extremamente vitorioso dentro das pistas. Difícil dizer se ele foi um dos melhores da história. Entre os maiores, porém, Christian Heins tem o seu lugar garantido.

Pelo status de "monumento nacional" alcançado no auge de sua carreira como piloto, pela magnífica coleção de vitórias dentro e fora do país e por ter contribuído de maneira imensurável para a popularização do automobilismo no Brasil, Christian "Bino" Heins leva o nono lugar na lista dos Dez Maiores Pilotos Brasileiros da História.

Como era de se esperar, o YouTube não possui nenhum vídeo com a presença de Bino. Ficamos, então, com o filme abaixo, um vídeo de apresentação da Mil Milhas 2007. Presente nas primeiras edições desta corrida, Bino foi vital para o crescimento da prova. Se não fosse por ele, talvez as imagens abaixo nem existissem:



A seção Os 10+ do Blog F1 Grand Prix volta amanhã, com o número oito da lista dos Dez Maiores Pilotos Brasileiros da História. E hoje, ao longo do dia, comentários sobre as principais notícias do mundo da velocidade. Até mais!

Crédito das fotos:
Demais - http://www.bandeiraquadriculada.com.br/Christian%20Heins.htm (este site também foi a principal fonte do texto)

10 comentários:

Anônimo disse...

otimo texto, belissima história, essa lista tá demais Gustavo!!!!!

Nunca tinha ouvido falar nesse Heinz e tô até envergonhado depois de ler esse texto. Ele eu devia conhecer!!!

Sobre os que faltam, acho que não é tão difícil adivinhar mas a ordem é que vai dar o que falar. Vejamos, temos Helinho, Tony, Pace, Massa, Rubinho, Senna, Piquet, Emerson, talvez eu esteja esquecendo mais alguém???

Anônimo disse...

Nossa, zebra total. Conheço a estória do Bino mas não achei que voce fosse lembrar dele, muito bom seu post.

Anônimo disse...

Bela história.... mais uma aprendo por aqui. Agora ... curiosidade... E o Landi? é o próximo ou será um Top 3??

Anônimo disse...

Nao conhecia o Heins, bom saber que o Brasil já tinha bons pilotos desde lá os anos 50. Bela escolha na minha opinião.

Anônimo disse...

Gustavo,
Com esta vc surpreendeu a todos!
Mais uma vez vc conseguiu convencer com bons argumentos...
Já o 1º lugar, xiiih ! Te preparas q vai dar muita polemica. Eu mesmo já to preparando meus argumentos pra defender minha preferencia.

robalo disse...

Caraca, caraca, caraca !!!! Christian Heins ??? Bambino ?? Bino ?? Who ??? Você falou de um Kara que eu nunca tinha ouvido falar. E olha que eu não sou tão novo assim... Bela história !! Muito trágico também o fim do piloto!!!

Caro Augusto, sem querer fazer média - até mesmo porque a qualidade do seu trabalho dispensa essa atitude -, sua narrativa a respeito do Christian foi muito interessante, pois você "quase" conseguiu fazê-lo "reviver". Tipo de narrativa mais ou menos como a música "Faroeste Caboclo", de Renato Russo, a qual vc vai ouvindo e vai criando cenas em sua mente. Você não ouve apenas a música, também vê o filme. Eu, por exemplo, consegui reviver cenas de um piloto que nunca vi correr, nem sequer tinha ouvido dele falar... Muito curioso também o lance da apreensão de todos os troféus do Bino, no Aeroporto de São Paulo, com a consequente e honrosa intervenção do Presidente Juscelino Kubitschek, que colocou o piloto na condição de "monumento nacional". Até agora parece perfeita a sua lista, o que não diminui, nem um pouco, a minha expectativa em relação aos próximos indicados... Acho que vc, em algum momento, vai derrapar... Nada obstante o seu poder de persuasão... Rsss

Anônimo disse...

Brilhante essa sua análise sobre um cara que era um mito à sua época, precursor, desbravador, empreendedor e, evidentemente, piloto com P maiúsculo. Como você mesmo categorizou: Bino, um ícone dentro das Pistas.

Por essa eu não esperava, embora você já tenha dado mostras que sabe surpreender.

Numa país de Senna, Piquet, ‘Emmo’, e outros tantos, Christian Heins, assim como seu contemporâneo Landi deveriam ser referências automobilísticas nacionais.

Parabéns mesmo, Gustavo!!!

Forte Abraço!

PS1: Agora, quando eu debater sobre automobilismo, vou perguntar logo, de cara: Conheces Christian Heins? Hehehe....

PS2: Li e reli 4 vezes seu artigo. Uma maravilha de leitura. Depois desse, o que vier é lucro.

Blog F1 Grand Prix disse...

Obrigado por todas as mensagens!

Alex: Valeu mesmo pelo elogio! E espere que ainda vem muito mais por aí! Aposto que você vai gostar do indicado de amanhã.

Carlos: Quem conhece a história do Bino sabe que ele não poderia faltar, não é mesmo?

Pantaneiro: Já dou uma dica: o Chico está, ao menos, no top 5...

Caio: Eu poderia escrever vários posts sobre os "ases" das décadas de 50 e 60. Escolhi Heins pela sua carreira internacional e participação no desenvolvimento da equipe Willys, principalmente.

Jean: Ok, estou esperando os seus argumentos! E tomara que dê polêmica mesmo, a Fórmula 1 anda sem muita notícia ultimamente, né?

Robalo: Fico extremamente lisonjeado pelos seus elogios! Vamos ver então se eu vou "estragar" a lista com alguma indicação errada hehehe!

Guilherme: Cara, muito, muito obrigado pelas suas palavras! Agora você já tem motivo para parecer O especialista em automobilismo hein hehehe? A história do Bino, realmente, é uma preciosidade.

Grande abraço a todos!

Gustavo Coelho

Carlos Bragatto disse...

Um detalhe que é ainda mais desconhecido, é que o Christian Fittipaldi tem esse nome em homenagem ao Christian Heins. Eu vi o Emerson falar que o Wilsinho deu esse nome ao filho.

Blog F1 Grand Prix disse...

Amazin,

É verdade! Esqueci-me dessa detalhe, mas Christian ganhou seu nome realmente em homenagem ao Bino.

Grande abraço!

Gustavo Coelho