terça-feira, 27 de novembro de 2007

Os 10+ do Blog F1 Grand Prix: Os Dez Maiores Pilotos Brasileiros da História - Número 10

Começamos, hoje, a última lista do ano da seção Os 10+ do Blog F1 Grand Prix. Voltando ao formato antigo - em que somente um "número" é apresentando por post - vamos falar de um tema bastante polêmico: Os Dez Maiores Pilotos Brasileiros da História. Sem perder mais tempo, é hora de iniciar a contagem:

DÉCIMO COLOCADO - Gil de Ferran

Gil de Ferran é um piloto de certas contradições. Embora nunca tenha participado de um Grande Prêmio da Fórmula 1, foi um dos maiores nomes de sua geração, tendo se destacado em todas as categorias por onde passou. Tirando isso, Gil ainda possui mais uma "incoerência": por conta de uma peça do destino, ele não nasceu no Brasil. Mesmo assim, foi um principais representantes da história do automobilismo brasileiro.

Na época do nascimento de Gil, seu pai - Luc de Ferran - trabalhava em Paris, a serviço da então famosa equipe Willys. Foi na Cidade da Luz onde Gil nasceu, no dia 11 de novembro de 1967. Apenas nove meses depois, a família de Ferran voltou ao Brasil, instalando-se em São Paulo. A capital paulista seria o lar de Gil até os vinte anos de idade, quando ele decidiu tentar a sorte na Europa.

Antes disso, sua carreira foi recheada de vitórias. O primeiro contato com o automobilismo veio já aos cinco anos. Nessa época, Gil costumava andar com um kart na Cidade Universitária, supervisionado pelo pai. Para evitar excessos, Luc de Ferran impedia que o filho corresse muito rápido, colocando um taco de madeira atrás do pedal do acelerador.

Em 1983, aos quinze anos, Gil fez sua estréia em competições de verdade. Logo de cara, levou o título paulista de kart. Um ano depois, Gil foi vice-campeão brasileiro da categoria, ingressando na Fórmula Ford em 1985. O título veio em 1987, com cinco vitórias. Naquele momento, Gil precisou tomar uma decisão que influenciaria o restante de sua vida. Entre o automobilismo e a carreira de engenheiro, não teve dúvidas.

Contando com o apoio da família, Gil abandonou a faculdade e rumou para a Europa. O começo da trajetória, como era de se esperar, foi difícil. Mas, após conquistar resultados de relevo na Fórmula Ford Inglesa, Gil chamou a atenção de ninguém menos do que Jackie Stewart, o tricampeão da Fórmula 1. A parceria de sucesso teve início em 1990, na Fórmula Vanxall-GM.

Nos dois anos seguintes, Gil disputou a Fórmula 3 Inglesa, conquistando o título em 1992. Foram sete vitórias, que lhe credenciaram a fazer um teste com a Williams, a grande dominadora da Fórmula 1 naquela época. Gil andou com o carro em Silverstone, sendo assessorado pelo recém-contratado da Williams, Alain Prost. Mesmo com pista úmida, Gil virou um ótimo tempo, não muito distante do francês.

Mas o convite para a Fórmula 1 não veio. A solução foi disputar a Fórmula 3000 em 1993, mais uma vez ao lado da Stewart Racing. Gil venceu uma etapa, em Silverstone. No fim do ano, porém, foi apenas o quarto no campeonato. De qualquer maneira, conseguiu um teste com a Arrows, em Estoril. Se tudo corresse bem, Gil poderia ganhar uma vaga para 1994. Infelizmente, um lance de azar estragou a oportunidade.

Num intervalo dos ensaios, Gil bateu com a cabeça na quinta da porta do caminhão da Arrows, sofrendo um corte profundo. Sem condições de correr, ele precisou abrir mão do teste, e nunca mais recebeu outra chance. Após terminar em terceiro no campeonato de 1994 da Fórmula 3000 - com três vitórias - Gil precisou mudar o rumo da sua carreira. Resolveu, então, tentar a sorte nos Estados Unidos.

Já no início de sua carreira na antiga Fórmula CART, Gil ganhou uma reputação de rápido mas inconsistente. Correndo pela equipe Hall - um time mediano, cujo principal atrativo era a chamativa pintura amarela da Pennzoil - Gil demorou a traduzir velocidade em resultados. Seus críticos, porém, silenciaram depois da sensacional atuação em Laguna Seca, onde Gil venceu de forma dominadora a última prova do ano.

Resultado final: 14º no campeonato, suficiente para ganhar o título de "novato do ano", batendo os também brasileiros Christian Fittipaldi e André Ribeiro. Em 1995, Gil melhoraria ainda mais, fechando o ano em sexto, incluindo uma vitória na pista do aeroporto de Cleveland. De repente, ele já era outro: sua consistência virou uma marca registrada, e Gil passou a ser considerado um dos pilotos mais inteligentes do grid.

A tática de acumular resultados quase deu certo em 1997, quando Gil foi vice da CART - agora pela equipe Walker - mesmo sem nenhuma vitória. Logo depois, porém, o ritmo da Walker caiu e Gil perdeu rendimento junto. Ele não passou de 12º em 1998 e oitavo no ano seguinte, conquistando apenas um triunfo em todo essa tempo: a vitória na etapa de Portland de 1999. Era chegada a hora de mais uma mudança.

Dessa vez, Gil acertou em cheio. Ele assinou com a tradicional Penske, que não ganhava um título desde 1994, com Al Unser Jr. O ano de 2000 seria um conto de fadas para Gil e a esquadra brasileira na Fórmula CART. Foram oito vitórias de pilotos brazucas, sendo duas de Gil. No fim do ano, ele levou o título numa confusa e emocionante corrida no super-oval de Fontana, em que apenas cinco carros chegaram ao fim.

O bi da CART veio em 2001, numa temporada ainda melhor: Gil venceu duas vezes e levou o troféu de campeão com uma etapa de antecipação. Em 2002, a Penske mudou-se para a IRL, e ele foi junto com a equipe. Ao lado do companheiro Helio Castroneves, Gil lutou contra Sam Hornish Jr., mas o americano levou a melhor. O saldo do ano: uma vitória, terceiro no campeonato e um pavoroso acidente nos treinos para a etapa do Texas, que encerrou a temporada de Gil prematuramente.

Refeito do susto, ele estava de volta para mais uma excelente temporada em 2003. No fim, Gil foi vice da IRL, ganhando três corridas. Duas delas, especiais: as 500 milhas de Indianapolis - num triunfo para coroar sua carreira - e a etapa do Texas, naquela que foi a última prova de sua vida. Prestes a se aposentar, dizem que Gil recebeu um convite de Eddie Jordan para disputar a temporada de 2004 da Fórmula 1.

A trágica morte do novato Tony Renna em testes privados da IRL, porém, fez Gil mudar de idéia. Abrindo mão do sonho de correr na Fórmula 1, ele se aposentou no fim de 2003, encerrando uma carreira recheada de vitórias. Bicampeão da Fórmula CART - quando a categoria realmente era competitiva - e vencedor das 500 milhas de Indianapolis, Gil de Ferran não tem do que se queixar. Sem dúvida alguma, ele tem lugar cativo entre os maiores da histórias do esporte a motor nacional.

Por ter conquistado vitórias e disputado o título em todas as categorias pelas quais correu em sua carreira, pelo sensacional bicampeonato da Fórmula CART, na época em que a categoria vivia o seu auge, e pela emocionante vitórias nas 500 milhas de Indianapolis de 2003 - um verdadeiro grand finale para a sua trajetória nas pistas - Gil de Ferran leva o décimo lugar na lista dos Dez Maiores Pilotos Brasileiros da História.

A seguir, um vídeo em homenagem ao grande Gil. As imagens mostram as últimas voltas da etapa de Fontana de 2000, que selou o seu primeiro título na Fórmula CART. Vale registrar que a emocionante narração é de Téo José:



A seção Os 10+ do Blog F1 Grand Prix volta amanhã, com o número nove da lista dos Dez Maiores Pilotos Brasileiros da História. E hoje, ao longo do dia, comentários sobre as principais notícias do mundo da velocidade. Até amanhã!

Crédito das fotos (na ordem):
http://www.istockphoto.com
http://www.motoclub.com.co/
http://www.gildeferran.com.br
http://www.motorsportsalmanac.com/
http://www.viewimages.com
http://www.theautochannel.com/
http://www.davidbalychracing.ca
http://www1.uol.com.br/

16 comentários:

Anônimo disse...

MTO MASSA o texto!!!! Coisas que eu não sabia:

- O acidente com o caminhão da Arrows. Foi por isso que ele não chegou na F-1??

- O convite da Jordan. Ele existiu mesmo???

- O fato do Gil ter nascido em paris, mas isso é ignorância minha!!!!

Parabéns já espero com ansiedade os próximos números!!!

Anônimo disse...

como o alex já disse aqui encima, parabéns pelo texto. Só esqueceu de falar da passagem do Gil pela Honda mas achou que acabaram as linhas rsrsrs

Fabio disse...

Será um dos poucos desta lista que eu já vi correr, o único, talvez.

Belo texto, Gustavo.

Anônimo disse...

Merecidissima a lembrança ao Gil de Ferran. Sempre gostei mto do carro "amarelão" dele na CART e eh uma pena um piloto do talento dele naum ter disputado uma vaga na F-1 por causa de um incidente como esse nos testes da Arrows (nunca soube disso, daonde vc tirou isso? Tu eh quase um showman do jornalismo, rs)
Ateh!

Anônimo disse...

Gustavo,
Sei q pra ter tanto sucesso no mundo do automibilismo o cara tem q ser fera e um pouco louco. Mas digamos q pra ser um grande idolo tem q ter feito algo a mais é na F1. Pq as demais categorias não deixam de ser uma 2ª divisão do automobilismo.
Mesmo assim tb acho ele um destaque entre os brasileiros.

Anônimo disse...

Gustavo, como prometí estou acompanhando a lista atentamente. A Titulo de curiosidade, coloco mais dois pontos. Jimm Hall, então proprietario da equipe era "Mormom", ou seja, membro da Igreja de Jesus Cristo dos Ultimos Santos) e para correr aos domingos necessitava de uma autorização especial. (para os Mormons, o Domingo é um dia sagrado e deve ser guardado). A primeira vitória do Gil neste time se deu com o carro reserva, (tinha um X ao lado do 8) e os mecanicos montaram a caixa de cambio minutos antes da largada, numa cena irreal, com engrenagens caidas no chão e mecanico soprando peça).... só acho que o Gil merecia uma posição melhor do que 10º. No final da lista palpito mais.

Anônimo disse...

Correção.... (Igreja de Jesus Cristo ds Santos dos Ultimos Dias)

Blog F1 Grand Prix disse...

Obrigado pelas mensagens!

Alex: Valeu mesmo pelo elogio! Sobre a questão do convite do Eddie Jordan: foi uma notícia que rolou na época e não chegou a ser desmentida por nenhum dos dois lados...

Marcos: É verdade, faltou esse detalhe. Mas como eu estipulo o número de parágrafos antes do texto, fiquei sem espaço mesmo!

Fábio: Calma, nem todos são lendas antigas! Te garanto que pelo menos outros três você viu na pista.

Leandro: Muito obrigado pelo elogio! Essa do "showman" eu vou guardar com carinho hehehe. Sobre a notícia da queda do Gil, li no GPTotal há muito tempo e não esqueci. Quando fui preparar o texto, procurei pelo google e encontrei aqui:
http://www.gptotal.com.br/panda/cartas1q_09_03.htm (aperte crtl+f e coloque "Gil" - vai direto para um texto sobre ele, onde o acidente no caminhão da Arrows está mencionado)

Jean: Concordo com sua críticas, mas apenas seis pilotos brasileiros fizeram realmente sucesso na Fórmula 1. E todos eles ainda vão aparecer na lista.

Panteneiro: Ótimas as suas contribuições, não conhecia essas curiosidades! Fiquei em dúvida sobre colocar o Gil mais à frente, mas o fato dele não ter nem corrido na Fórmula 1 acabou pesando um pouco no final...

Grande abraço a todos!

Gustavo Coelho

Anônimo disse...

Começou bem a lista com o Gil de Ferran.
Foi a época que mais acompanhei a Indy (só porque havia vários brasileiros com chances de vitória).
Legal também rever o vídeo com a narração do Téo José e o tema da vitória do SBT. Até hoje não esqueço aquela vitória do André Ribeiro em Jacarepaguá, acho que em 1996. Lembro do André Ribeiro sendo entrevistado pelo Azenha quando havia acabado de vencer: “Formiga tanto, formiga tanto...”
Parabéns pelo texto, sempre enxuto e com boas curiosidades.
Pela sua dica só teremos mais 3 pilotos off-F1. Desse jeito, devem faltar duas vagas, porque uma deve ser o Alex Barros da Moto GP. Ou Moto GP não entra????

Grande Abraço!

Anônimo disse...

Graaaaaande Gil!!!!!! Esse não ficar fora de jeito algum. Bom, tirando Pace, Massa, Rubinho, Senna, Emerson e Piquet, faltam 3 vagas, aí são vários pra vc escolher, hein!!!!

Abs

Fabio disse...

Gustavo,

Eu digo ver correr mesmo, ao vivo no autódromo! Mas ainda tem o Moreno e talvez algum dinossauro da Stock, ex-F1. Talvez mesmo, nas minhas contas não tem muito espaço pra isso...

Abração!

Blog F1 Grand Prix disse...

Guilherme: Eu estava lá nessa vitória do André Ribeiro. Foi, realmente, sensacional! Sobre o Alex Barros: acabei optando por deixar ele de fora, porque o motociclismo é quase um outro esporte...

Maurício: É basicamente isso aí mesmo. Agora, quero ver você adivinhar os outros três...

Fábio: Bem, nesse caso, te garanto que pelo menos um outro você deve ter visto...

Grande abraço a todos!

Gustavo Coelho

robalo disse...

Ai ai ai ai... esse negócio de listas dos dez mais no automobilismo sempre gera muita discussão... Sua lista começou bem. A toda evidência, e por méritos próprios, o Gil de Ferran não poderia mesmo ficar fora desse rol. Entretanto, toda minha curiosidade se volta para os últimos colocados, digo, 1º e 2º e 3º lugar. Acho que a coisa poderia ficar mais interessante ainda se vc não se limitasse, pelo menos no que diz respeito aos três primeiros colocados, a mostrar apenas a biografia de cada um, mas sim se vc os avaliasse com base num pacote de requisitos exigidos para que um piloto seja tido como "completo". Sugiro isso porque acho que gosto é uma coisa muito subjetiva, ou seja, cada um tem um... Por outro lado, os números também não dizem tudo por si só... Eles podem estar - e na maioria das vezes estão -, ligados diretamente ao desempenho do equipamento que cada piloto teve nas mãos. Com base nas estatísticas, números e coisas do gênero, acho que podemos apontar facilmente quem são ou foram os "melhores". Mas o "maior", no entanto, pressupõe sempre algo a mais, ou algo que o diferencie, algo que deve estar ligado inteiramente ao mundo da velocidade. Algo que fuja do subjetivismo, mas que também não contemple tão somente as estatísticas. De qualquer forma, ou seja como for, opte vc ou não por expor a sua opinião pessoal, acho o seu blog muito legal. Embora persistirá até o fim a minha curiosidade de saber quem serão os primeiros colocados...!!!! Rsss

Abç!

Blog F1 Grand Prix disse...

Robalo,

Caramba, tomei até um susto quando vi o tamanho do seu comentário! Muito obrigado pela participação! Agradeço também as suas sugestões: pode deixar que eu vou seguir algumas delas. Na biografia do Gil, sobrou pouco espaço para comentar a minha opinião pessoal sobre ele. Quando estiver falando dos outros "números", porém, vou tentar separar um espaço para comentar a importância deles também!

Grande abraço!

Gustavo Coelho

Cassio e Stan disse...

legal o texto
você quer conhecer o meu mais novo blog?estou lhe convidando o nome dele é projetos e nostalgia completa fala só da turma das antigas

Anônimo disse...

Discordo totalmente de vc!!!! Quando que o Gil de ferran vai ficar entre em Décimo lugar!!!! rsrs só pode ser brincadeira sua!!

Primeiro, ele foi e ainda é o brasileiro mais bem sucedido desde a epoca do Senna... e o mundo inteiro sabe a qualidade do gil de ferran...

ele, com certeza é o 4 (quarto) melhor piloto do Brasileiro de todos os tempos!!!

Vc nao comentou... em 1997 a vaga na Stweart na F1 era do Gil , so que o salario dele na Cart era alto e o Jack chamou o Rubinho...


O Gil na cart era o Rei.. o Motor dele era o unico montado no Japao pela Honda, os outros eram montados nos EUA. O Salario do gil era a metade paga pela Honda.. isso nao foi divulgado tamnbem!!!


Com certeza ele merecia um lugar muito mais a frente...

o que o Massa ja fez melhor que a carreira do Gil?? e o Rubinho???

eles entrarian nos 10 , mais atras do Gil.