terça-feira, 17 de julho de 2007

Os 10+ do Blog F1 Grand Prix: As Dez Maiores Manobras de Ultrapassagem de Todos os Tempos, Número 1

O tão esperado post com o grande campeão da nossa lista chega um pouco atrasado por conta da natação nos Jogos Pan-Americanos. Agora que Thiago Pereira já deu seu show, podemos voltar ao automobilismo. Vamos conhecer a manobra antológica que faturou o primeiro lugar no ranking das Dez Maiores Manobras de Ultrapassagem de Todos os Tempos:

10. Alonso sobre Schumacher - Hungria/2006
9. Villeneuve sobre Schumacher - Portugal/1996
8. Mansell sobre Piquet - Inglaterra/1987
7. Schumacher sobre Raikkonen - Brasil/2006
6. Montoya sobre Schumacher - Brasil/2001
5. Villeneuve sobre Jones - Holanda/1979
4. Raikkonen sobre Fisichella - Japão/2005
3. Senna sobre Lauda - Mônaco/1984
2. Hakkinen sobre Schumacher - Bélgica/2000
PRIMEIRA COLOCADA - Nelson Piquet sobre Ayrton Senna, G.P. Da Hungria de 1986

Essa não foi difícil de adivinhar, hein? Pelo menos entre nós, brasileiros, a manobra de Piquet sobre Senna ficou marcada. Epicentro de discussões estúpidas entre piquetistas e sennintas, a ultrapassagem não deve ser lembrada para estimular o debate interminável sobre quem é melhor.

Mas sim para celebrar a maestria da dupla de pilotos, e o duelo antológico que os dois tiveram naquele G.P. da Hungria. Um duelo que alimentou a rivalidade de Piquet e Senna fora da pista. Mas, também, confirmou a genialidade de ambos dentro de um carro de corrida.

O ano de 1986 estava sendo muito mais difícil para Nelson Piquet do que qualquer especialista seria capaz de prever. Depois de vencer a etapa inaugural da temporada, no Rio de Janeiro, o até então bi-campeão mundial tinha entrado numa má fase da qual parecia não ter condições de sair.

Piquet não só amargava um jejum de vitórias como também começara a ser batido pelo seu companheiro de equipe, Nigel Mansell. Uma surpresa até para os ingleses, que fizerem de Mansell seu novo ídolo nacional.

No Grande Prêmio da Inglaterra, nona etapa do ano, Piquet perdeu um duelo direto contra o companheiro. Ali, rompeu com praticamente toda a equipe. A partir daquele ponto, não mais dividiria com Mansell seu acerto do carro, que o inglês copiava, sem vergonha.

A tática rendeu frutos já na corrida seguinte. No Grande Prêmio da Alemanha, Piquet venceu pela primeira vez desde o Brasil. E venceria ainda duas das próximas três corridas seguintes. Um desses triunfos aconteceu na Hungria.

Estreando na Fórmula 1, o circuito de Hungaroring ainda não era tão odiado pelos fãs e pilotos. Mesmo assim, já demonstrava, de cara, sua configuração travada e de baixa velocidade, que tornava as ultrapassagens uma tarefa um tanto complicada.

A classificação seria importante, e nela quem se deu bem foi Ayrton Senna, que conquistou sua sétima pole de 1986. Nelson Piquet era o segundo no grid. Alain Prost, Nigel Mansell, Keke Rosberg e a surpresa Patrick Tambay completavam os seis primeiros, nessa ordem.

Na largada, Senna saiu bem e contornou a curva inicial na frente, sem dificuldades. Atrás dele, Piquet e Prost largaram mal. Mansell se aproveitou disso e pulou para segundo, com seu companheiro logo atrás, em terceiro.

Não demorou muito para que Piquet mudasse a ordem. No início da segunda volta, Nelson passou Mansell, e partiu na caça de Senna. No décimo-segundo giro, numa manobra difícil e ousada, passou Ayrton no final da reta principal, tomando a liderança.

Piquet liderou até a 35ª volta, quando fez seu pit stop programado. Senna voltou ao primeiro posto e, nesse ponto, andou forte para conseguir abrir uma boa vantagem. Depois que fez sua parada, Ayrton se manteve como líder.

Na segunda colocação, Piquet não aceitaria, porém, uma derrota tão facilmente. Colou em Senna e arquitetou sua manobra. Na 55ª volta, Nelson entrou colocado na reta principal atrás da Lotus de Ayrton.

A ultrapassagem convencional consistia em pegar o vácuo do carro da frente e entrar pela linha de dentro, freiando mais tarde para completar a manobra. Piquet tentaria isso. Só que, tendo Senna como adversário, não seria uma tarefa tranqüila.

Nelson não consegue chegar ao fim da reta emparelhado com Ayrton. Mesmo assim, vai em frente. Chega a ultrapassar a Lotus, mas retarda a freiada mais do que podia e permite a recuperação de Senna. Piquet teria de tentar o plano B.

Duas voltas depois, a segunda tentativa. Mais uma vez, Nelson está colado no carro de Ayrton. Só que, como também fizera na outra oportunidade, Senna desloca-se para o meio da pista, deixando Piquet sem espaço para a ultrapassagem.

Então, surpreendentemente, Nelson abre por fora. Por fora? Sim, e lá foi ele. De novo, ele não está lado a lado com Ayrton quando os dois chegam ao ponto de frenagem. Talvez pensando tratar-se de uma tentativa inútil, Senna alivia um pouco antes do que devia. Um erro imperdoável.

Piquet freia no último instante possível, deixando sua Williams deslizar de lado enquanto controla a derrapagem com uma habilidade impressionante. Nos dois ou três segundos seguintes, executa aquela que para muitos - inclusive o escriba do Blog - é a maior ultrapassagem já vista numa corrida de Fórmula 1.

Por duas vezes, sua Williams teima em escapar. Mas Nelson segura com força o carro, travando as rodas em ambas as oportunidades. Parecia impossível. Piquet, porém, conclui a manobra, voltando para a linha normal exatamente na frente de Senna, que ainda tem de tirar o pé para não bater.

Uma ultrapassagem antológica. Para Jackie Stewart, "foi como fazer um looping num Boeing 747". Uma definição que fala por si mesma. Até o fim da corrida, foi um passeio para Nelson. Na bandeirada, tinha 17 segundos de vantagem sobre Ayrton. E conseguia aquela que, muito provavelmente, foi a maior de suas vitórias.

Pela ousadia, pelo controle absolutamente formidável e espetacular de sua Williams, e por ter realizado a manobra em cima do seu grande rival, o provável piloto mais difícil de ser ultrapassado na história da Fórmula 1, Nelson Piquet leva o primeiro lugar na lista da Dez Maiores Manobras de Ultrapassagens de Todos os Tempos.


Como sempre, o vídeo:



Amanhã, uma rápida palavrinha sobre as manobras que não entraram na lista, mas merecem menção. E, a partir de quinta, já começamos o nosso novo ranking. Dessa vez, contaremos as Dez Maiores Performances Individuais de Todos os Tempos. Alguém já tem favorito?

O Blog volta mais tarde comentando a saída de Gil de Ferran da Honda, anunciada ontem. E, possivelmente, teremos ainda outros posts sobre as notícias desta terça-feira. Nos vemos já!

5 comentários:

Anônimo disse...

não podia ser outra. Excelente a contagem. Espero a próxima.

Anônimo disse...

Só podia ser essa hahaha. Não sei como o Piquet fez isso, fico pensando até hoje. O galvão narrando é engraçado, dá para perceber que ele tava torcendo pro senna e quase não acredita quando o piquet passa. Queria ter visto a manobra ao vivo, pena que só nasci depois.

Felipe Maciel disse...

Não podia ter sido outra. Cantei essa pedra desde a ultrapassagem nº10.

Que braço do Piquet, hein... Pena que atualmente não dá mais pra fazer coisa parecida com os carros de F1, mas é muito bom ver os piloto trazendo de lado nas curvas. Manobra impressionante!

Anônimo disse...

Segundo o Reginaldo Leme contou, em seu programa Linha de Chegada, no Sportv, durante o pódio o Piquet ainda olhava pro Senna e falava:

- Gostou, fdp?

Anônimo disse...

Gustavo, belíssima escolha. E agora, ao ler esse comentário do 'anônimo' em que o Reginaldo conta que, no pódio, o Piquet teria dito pro Ayrton: "Gostou, fdp" - fato que desconhecia - fica comprovada a minha tese de que o Piquet só ousou essa manobra - onde era evidente o risco de ambos baterem já que Senna não dava passagem a ninguém - por causa da rivalidade entre ambos, que estava no auge naquela época. Piquet era bicampeão mundial e Senna a sensação da F1. E o país já se dividia entre piquetistas e sennistas (não sennintas, certo?). Ou seja, se o piloto à frente fosse Prost, por exemplo, duvido que Piquet tivesse arriscado essa manobra. Pra ver como, às vezes, a rivalidade é fundamental para que o homem tente superar seus limites. E, finalmente, parabéns por essa seleção. Você me proporcionou uma bela viagem ao passado e os que não tiveram a chance de ver a F1 desde que é transmitida ao vivo certamente se deliciaram.