segunda-feira, 20 de julho de 2009

A tragédia de Henry Surtees

O domingo foi um dia triste para o automobilismo.

No tradicional circuito de Brands Hatch, a Fórmula 2 realizava a quarta rodada dupla da temporada 2009, a primeira desde que a categoria foi relançada.

Na primeira corrida, no sábado, um jovem piloto de 18 anos conquistou seu primeiro pódio no ano, afastando uma sequência de maus resultados.

Apesar disso, ele não vinha bem na prova do domingo. Ocupava uma das últimas posições quando uma acidente acontece logo à sua frente.

Jack Clark batera na barreira de proteção e uma das rodas de seu carro se soltou. A peça pulou para o meio da pista exatamente no momento em que o resto do pelotão passava em alta velocidade.

A roda atingiu a cabeça de Henry Surtees. Em cheio, sem qualquer possibilidade de reação para o jovem britânico.

Surtees imediatamente desmaiou. O carro, desgovernado, saiu da pista e bateu no muro em velocidade baixa. Mas não foi o choque com a barreira de proteção que matou o novato de 18 anos.

Levado ao hospital, Surtees não resistiu. O choque em cheio com a roda solta do carro de Clark não deu chances ao azarado piloto.

E assim, numa dessas fatalidades do automobilismo, Henry Surtees morreu.

Mortes no esporte a motor acontecem com trágica regularidade, mas nunca deixam de chocar. Ainda mais no caso do jovem Surtees, filho do lendário John Surtees.

A história da família é irônica, no mínimo.

John, o pai, correu numa época em que o automobilismo era um esporte de alto risco. Antes de se aventurar na Fórmula 1, já se tornara tricampeão no Mundial de Motovelocidade, que também era uma categoria muito perigosa naquele período.

Em 1964, John venceu o campeonato da Fórmula 1 pela Ferrari e escreveu seu nome como um dos maiores. Mais tarde, se tornou piloto da Honda e conseguiu a façanha de ganhar uma corrida - o GP da Itália de 1967 - com o notável carrinho japonês.

No ano seguinte, John se recusou a correr o GP da França com o carro novo da Honda porque o considerava muito perigoso. Um veterano de 42 anos chamado Jo Schlesser foi chamado a pilotar o novo modelo.

Na segunda volta, uma quebra arremessou Schlesser para fora da pista. O carro pegou fogo e ele morreu na hora.

John Surtees continuou na prova, impassível, e terminou em segundo. Se tivesse pilotado o carro que a equipe queria, provavelmente seu destino teria sido outro.

Anos depois, John criou sua própria equipe, fracassou com ela, mas ainda se manteve ativo durante um bom período.

Jamais, em qualquer momento de sua longa carreira, sofreu um acidente realmente grave. Apenas um susto aqui e ali, mas o anjo da guarda de John sempre trabalhou muito bem.

Aposentado, John se afastou do esporte. E só voltou a frequentar as corridas quando o filho temporão, Henry, começou a carreira.

Nascido quando o pai já tinha 57 anos de idade, Henry pilotou karts com competência e avançou pelas categorias de base até chegar à Fórmula 2, neste ano.

Correndo pela tradicional equipe Carlin, teve um difícil começo de temporada, mas vinha se recuperando. Chegou à pista de Brands Hatch confiante e logo no sábado foi o terceiro, conquistando o terceiro lugar.

Então, no domingo, foi ao encontro do destino.

É irônico que o pai tenha sobrevivido por tanto tempo numa época tão perigosa, enquanto o filho foi vítima de um acidente fatal logo na largada de sua carreira, numa fase em que os autódromos são incomparavelmente mais seguros.

Mas foi isso o que aconteceu.

Para o velho John, que tantas vezes perdeu amigos no seu período de piloto, ver o próprio filho morrer nas pistas deve ter sido o mais duro de todos os golpes.

Qualquer um que entra nesse esporte, porém, sabe que os riscos estão sempre ali, por mais que se tente evitá-los.

Henry Surtees morreu e agora já não há mais nada a fazer.

Como escreveu o jornalista Fábio Seixas: que o jovem Henry vença outras corridas, onde estiver. E que fique em paz.

2 comentários:

Anônimo disse...

Solidariedade a John Surtees neste momento difícil... é duro perder um filho aos 18 anos, e na pista... que situação.

Tenha força de vontade, John Surtees.
Você superará este drama, que é perder um filho.

Ron Groo disse...

Me impressionou a facilidade com que os F2 soltam as rodas.

Veja que também o carro do Surtees soltou a sua quando bateu no muro.

Mais uma vez a Williams na reta com morte de pilotos.