quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Os 10+ do Blog F1 Grand Prix: As Dez Maiores Performances Individuais de Todos os Tempos - Número Um

Finalmente, o grande final. Hoje, após quatro semanas de contagem, completamos a lista das Dez Maiores Performances Individuais de Todos os Tempos. Com uma atuação absolutamente perfeita daquele que foi, em termos percentuais, o melhor piloto da história da Fórmula 1:

10. Michael Schumacher - Espanha/1996
9. Damon Hill - Hungria/1997
8. John Watson - Long Beach/1983
7. Jackie Stewart - Alemanha/1968
6. Nigel Mansell - Hungria/1989
5. Stirling Moss - Mônaco/1961
4. Gilles Villeneuve - Espanha/1981
3. Jim Clark - Itália/1967
2. Ayrton Senna - Europa/1993
PRIMEIRA COLOCADA - Juan Manuel Fangio no Grande Prêmio da Alemanha de 1957

Quando elaborei a lista pela primeira vez, há mais ou menos um mês, não me dei conta da feliz coincidência da datas. Afinal de contas, a histórica vitória de Juan Manuel Fangio no mitológico circuito de Nurburgring, Alemanha, completou 50 anos exatamente nessa última quarta. Naquele 4 de agosto de 1957, o argentino executou sua obra-prima.

Com alguns dias de atraso, chega o meu humilde relato sobre a performance do Maestro na mais perigosa e fantástica pista de corrida que já existiu. Nurburgring, para quem não sabe, já foi um circuito com mais de 22 km de extensão. Suas subidas e descidas eram tantas que os carros chegavam a andar em altitudes de cem metros de diferença em uma volta pela pista.

No total, a o circuito (à esquerda) tinha 174 curvas, que eram igualmente difíceis e desafiadoras. Não havia, na opinião do pilotos, um trecho considerado, digamos, o mais complicado. A pista inteira era um teste de coragem contínuo. Um erro poderia ser fatal.

Em 1957, Juan Manuel Fangio liderava o campeonato com certo conforto. Até ali, já haviam acontecido quatro das sete corridas da temporada, excluindo as 500 milhas de Indianapolis, na qual nenhum construtor europeu tomava parte.

Tendo vencido em Rouen (à direita, uma foto dessa prova), Mônaco e Buenos Aires, o Maestro contava 25 pontos no campeonato. Seu perseguidor mais próximo era o italiano Luigi Musso, da Ferrari, com 13. O único contratempo de Fangio havia sido o Grande Prêmio da Inglaterra, em Aintree, quando o argentino abandonou com problemas de motor.

Naquela oportunidade, Stirling Moss venceu em casa, conseguindo um triunfo histórico. Afinal, era a consagração de um piloto inglês, com um carro inglês - o Vanwall - ganhando juntos pela primeira vez justamente em seu país.

Na corrida seguinte, porém, Moss não tinha muitas esperanças de vitórias. Depois da corrida em Aintree, a Fórmula 1 rumou para Nurburgring, a quinta etapa do ano. E, nessa pista, os Vanwall entravam em desvantagem por causa da dificuldade de controle resultante das inúmeras ondulações da pista.

Com isso, a briga se resumia a Maserati e Ferrari. Fangio era o óbvio líder da primeira, que contava, também, com o francês Jean Behra e os americanos Harry Schell e Masten Gregory. Por sua vez, a equipe de Enzo Ferrari vinha com o italiano Luigi Musso e os ingleses Mike Hawthorn e Peter Collins.

Nos treinos, a Maserati constatou que seu modelo - o 250F - era muito pesado para correr toda a prova sem trocar os pneus, que ficavam muito desgastados. Com isso, Fangio e seus companheiros teriam de fazer uma parada de reabastecimento na metade da corrida.

Sabendo disso, o argentino tinha consciência de que precisava abrir uma boa vantagem na primeira metade da prova, para voltar do pit stop ainda na frente. Na largada, porém, o Maestro - que estava na pole - não saiu muito bem e perdeu duas posições.

Com sua longa experiência em corridas longas como essa, Fangio sabia que não adiantava forçar no início. Assim, esperou até encontrar uma oportunidade de ultrapassar as Ferrari de Peter Collins e Mike Hawthorn, que lideravam. Ela veio na terceira volta, quando o argentino tomou a ponta.

Agora, era acelerar. Prontamente, o Maestro começou a abrir vantagem. À medida que seu tanque foi esvaziando, ele foi ficando cada vez mais rápido. Então, a uma volta de sua parada, no 12º giro, Fangio bateu o recorde da volta pela primeira vez naquele dia. Marcou 9:29.5s.

A previsão da equipe Maserati era de que a parada demoraria em torno de vinte segundos. Segundo a cronometragem do time do argentino, ele tinha vantagem suficiente para voltar à pista em primeira. Mas erraram a conta de longe.

Quando Fangio parou, estava com 28 segundos de distância para Hawthorn (à esquerda) e Collins, que se revezavam na vice-liderança. A troca, porém, demorou mais do que o esperado e o argentino voltou bem atrás de seus rivais. Com aproximadamente 50 segundos de diferença, ele parecia ter a corrida perdida.

Aí, começava a maior pilotagem da história. Considerando a enorme extensão de Nurburgring, a corrida tinha, no total, "apenas" 22 voltas. Portanto, Fangio tinha exatemente dez giros para tirar a diferença que o separava de Collins e Hawthorn.

De início, o argentino foi devagar, por dois principais motivos. Primeiro, seus pneus ainda estavam em fase de aquecimento e o Maestro não podia forçar o carro. Além disso, ele havia sido instruído pela equipe a andar mais devagar nas primeiras voltas, de forma a enganar a cronometragem da Ferrari.

De repente, Fangio acelerou. E, antes que Collins e Hawthorn pudessem ser avisados do perigo por seus mecânicos, o argentino começou a se aproximar. Pelas 174 curvas de Nurburgring, o Maestro andava absolutamente no limite.

A seqüência de voltas de Fangio, naquelas condições, eram inigualáveis. O argentino bateu o recorde da volta de forma sucessiva e frenética. Ele virou 9:28.5s, 9:25.3s, 9:23.4s, até alcançar espantosos 9:17.4s na 20ª das 22 voltas da corrida. Para se ter uma noção, o piloto da Maserati superou seu tempo da classificação em oito segundos!

Quando os pilotos apontaram na reta principal abrindo a penúltima volta, Fangio já havia chegado nas Ferrari. Primeiro, Fangio ultrapassou Collins, exatamente na curva inicial de Nurburgring. Ou seja, à frente da maior parte da torcida e de todo o pessoal de box.

Por alguns instantes, o piloto da Ferrari chegou a recuperar a posição, mas foi definitivamente superado logo em seguida. Agora em segundo, Fangio só tinha Hawthorn em sua frente. Era uma questão de tempo até o argentino ultrapassá-lo.

A torcida prendeu a respiração, esperando pela volta seguinte. Quando os carros completaram a 21ª volta, abrindo a última da corrida, Fangio apareceu na ponta. Delírio nas arquibancadas! O público, naquele dia, havia testemunhado a maior pilotagem da história.

O Maestro diminuiu seu ritmo diabólico na última volta, completando com apenas três segundos de distância para Hawthorn. No final, Collins ficou um pouco para trás, mas ainda terminou em terceiro lugar. Nenhuma colocação, porém, importava perto da atuação de Fangio.

Foi a última das 24 vitórias do argentino, e garantiu a ele seu quinto e derradeiro título mundial. O Maestro ainda participaria de mais algumas corridas até a aposentadoria em 1958, mas sua real despedida havia sido naquele dia, em Nurburgring. Ali, encerrou-se a trajetória de triunfos de um dos mais fantásticos pilotos de todos os tempos. O maior, com certeza, de sua época.

Pela pilotagem de garra, coragem e ousadia, por ter domado aquele que talvez tenha sido o mais perigoso e fantástico circuito da história do automobilismo e pelo fim perfeito de uma carreira repleta de vitórias, Juan Manuel Fangio leva o primeiro lugar na lista das Dez Maiores Performances Individuais de Todos os Tempos.

Infelizmente, não há muitos registros em vídeos do feito de Fangio. O melhor disponível na Internet está logo abaixo:



Antes de terminar tudo, uma consideração: só levei em conta, para a lista, as atuações acontecidas dentro do campeonato da Fórmula 1. Na próxima terça, um resumo de outros grandes desempenhos que, por motivos variados, acabaram não entrando no ranking.

A partir de quarta que vem, começamos uma nova lista. Estou colocando no ar uma enquete com as opções. Cabe a vocês escolher o próximo assunto. E hoje, ao longo do dia, o Blog volta comentando as notícias mais novas do mundo da velocidade. Até mais!

8 comentários:

Anônimo disse...

sua lista ficou perfeita, parabéns! Já sabe qual vai ser o próximo assunto?

Anônimo disse...

Eu achei que você tinha exagerado em tirar o primeiro lugar do Senna mas, pelo visto, não.

Não conhecia muito essa história, mas li sobre elas em vários blogs por esses dias.

bom texto ainda conseguiu apresentar algumas coisas que eu não havia lido sobre essa corrida.

Um abraço
Alex

Blog F1 Grand Prix disse...

Igor,

Por enquanto, ainda não decidi. As três candidatas mais fortes são:

- Os Dez Acidentes Mais Espetaculares

- Os Dez Piores Azares

- Os Dez Erros Mais Constrangedores

Alguém tem alguma preferência?

Blog F1 Grand Prix disse...

Igor, resolvi fazer uma enquete sobre o assunto. Vote lá!

Grande abraço!

Felipe Maciel disse...

Blog,
parabéns pelo trabalho nesta lista. Mandou bem nos textos, nos vídeos, na seleção, enfim, em tudo. Muito bom, cara.

Sobre a enquete, confesso que tô que nem você: estou em dúvida entre 4...
Como tem mais quatro dias pra pensar, eu voto depois, quando me decidir. Eu já estava me perguntando se você não iria criar uma lista negativa, digamos assim, como os piores azares, por exemplo, mas vejo q vai sim. As outras opções também são muito boas, o difícil é escolher a ordem, porque você deve estar disposto a fazer todas elas, não é verdade...

Speeder76 disse...

Excelente escolha. Já agora, a corrida foi no dia 4 e não no dia 8. Acho que confundiste com o Nigel Mansell... LOL!

Enfi, acho que conheces isto, mas coloco na mesma: http://continental-circus.blogspot.com/2007/08/gp-memria-alemanha-1957.html

Blog F1 Grand Prix disse...

Felipe,

Muito obrigado pelos elogios! Você tem até a meia-noite de terça para votar.

Speeder,

Valeu pela correção! Realmente, acho que confundi com a data do Mansell.

Grande abraço a todos!

Anônimo disse...

parabéns blog ainda não tinha lido o texto nem visto o video. Valeu!