segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A agonia da Campos

Comandar uma equipe de Fórmula 1 não é uma tarefa nada fácil, e Adrian Campos está chegando a essa conclusão antes mesmo de colocar seu primeiro carro na pista.

A escuderia espanhola, pela qual Bruno Senna deveria fazer sua estreia na Fórmula 1 nesta temporada, já corre um risco considerável de não disputar o próximo campeonato.

O motivo não poderia ser outro: falta dinheiro.

Quando contratou Senna, Campos tinha dois motivos para apostar no brasileiro.

Para começar, o sobrinho de Ayrton completara duas boas temporadas na GP2 e despontava como um dos grandes talentos do automobilismo de base europeu, já fazendo por merecer uma chance na Fórmula 1.

Mas é claro que havia outra razão muito forte para assinar com Senna.

O sobrenome.

Com a presença do herdeiro de Ayrton Senna em sua equipe, Campos esperava atrair uma quantidade razoável de investidores para garantir a participação de seu time na Fórmula 1.

Não foi o que aconteceu.

Senna trouxe consigo alguns patrocinadores pessoais - em especial, a Embratel - mas não foi capaz de gerar mais capital para a Campos.

As negociações da escuderia espanhola com empresas como a Petrobras aparentemente fracassaram e o time se viu no pior cenário possível.

Agora, a cerca de dois meses do início da temporada, não tem dinheiro para pagar a construtora Dallara, responsável pelo projeto do modelo que disputaria o campeonato deste ano.

Ainda é cedo para decretar o fim precoce da Campos, mas não há dúvidas de que a equipe está encontrando problemas graves para fechar o orçamento antes mesmo da temporada começar.

E a salvação, qual será?

Um piloto pagante, talvez. O venezuelano Pastor Maldonado e o russo Vitaly Petrov eram os favoritos à vaga de companheiro de Senna justamente porque carregam fortes patrocinadores.

Nenhum dos dois, porém, conseguiu reunir até agora o montante suficiente para comprar seu lugar na Campos.

O lugar da equipe na Fórmula 1 não está garantido. E a escuderia pode até perder sua vaga para a Stefan GP - uma obscura organização liderada por um sérvio que comprou o espólio da Toyota e ainda tem esperanças de disputar o campeonato deste ano.

Seja qual for o destino da Campos, o futuro da escuderia não parece muito promissor.

Em meio a tudo isso, surge a notícia de que o japonês Kazuki Nakajima pode ser o salvador da escuderia, trazendo fundos suficientes para garantir a participação do time em 2010.

Não se trata de algo improvável.

Nakajima é protegido da Panasonic e deve ter recebido algum tipo de compensação financeira da Toyota depois que a montadora decidiu deixar as pistas.

É claro que não é um piloto especial, mas isso é o que menos importa no momento.

Por mais que nunca tenha feito nada na Fórmula 1, Nakajima teria assegurado seu lugar na Campos se os patrocinadores ajudarem.

Para a equipe, o importante agora é conseguir entrar na pista.

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É engraçado como o mundo da Fórmula 1 dá voltas em tão pouco tempo.

Em outubro, em meio aos rumores de que abandonaria a categoria no fim do ano, a Toyota perdeu o alemão Timo Glock após um grave acidente nos treinos para o GP do Japão.

Glock bateu forte, machucou a perna e ficou afastado até o encerramento da temporada. E tudo aconteceu justamente no fim de semana em que a Toyota corria em casa.

Naquela altura, o campeonato de Kazuki Nakajima já era um desastre. Não havia muitas dúvidas de que o japonês não continuaria na Williams em 2010.

O automobilismo da terra do Sol Nascente passava por uma forte crise. Depois de ficar sem a Honda, o Japão também perderia Nakajima e a Toyota.

Ficaria totalmente sem representantes na Fórmula 1 pela primeira vez desde meados dos anos 80, quando um outro Nakajima - o pai, Satoru - foi escolhido como companheiro de Ayrton Senna na Lotus.

Então, quando não parecia haver muita esperança, um certo Kamui Kobayashi arrebatou corações nas últimas duas corridas do ano e garantiu com todos os méritos um lugar na Fórmula 1 em 2010.

A Toyota confirmou sua ameaça e deixou a categoria, mas Kobayashi ganhou sua recompensa ao assinar um contrato com a Sauber.

O futuro do Japão na Fórmula 1 estava garantido.

E, após quase ser deixado de lado, o país está razoavelmente perto de ter três representantes no campeonato de 2010.

Kazuki Nakajima, como já mencionado, pinta como o salvador da Campos.

E o carismático Takuma Sato, depois de um ano nas sombras, desponta como o favorito à segunda vaga na Renault.

Aqueles que gostam do estilo "kamikaze" de pilotagem nipônico já podem comemorar.

Kobayashi, Nakajima e Sato têm boas chances de correrem juntos em 2010. Um já está garantido.

Os outros dois parecem perto de chegar lá.

E nesse ritmo as vagas do grid para 2010 já estão quase todas preenchidas.

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Com Nakajima na Campos e Sato na Renault, sobram apenas quatro lugares no grid.

Na Toro Rosso, é quase certo que Jaime Alguersuari vai manter seu cockpit.

O nome do espanhol já consta até no site da própria equipe. Que, por algum motivo, reluta em soltar uma confirmação oficial.

Esse tipo de suspense inexplicável faz mesmo o estilo da Toro Rosso. Em anos anteriores, quem pesquisar vai recordar que a escuderia quase sempre foi a última a escolher seus pilotos para a temporada.

Vitantonio Liuzzi, Scott Speed e Sebastien Bourdais, por exemplo, são três nomes que sofreram bastante antes de finalmente conseguirem garantir sua vaga na Toro.

Já a Sauber não faz muita questão de esconder que o parceiro de Kamui Kobayashi deve mesmo ser o experiente Pedro de la Rosa.

Citado como o escolhido da escuderia suíça por uma série de veículos de imprensa de credibilidade, o espanhol ganharia sua primeira chance de titular desde que foi dispensado da Jaguar no fim de 2002.

Depois disso, chegou a fazer nove corridas pela McLaren, sempre como substituto de Juan Pablo Montoya. Não foi brilhante, mas sua combatividade deixou uma boa impressão.

De la Rosa é um piloto de apelo na Espanha e que carrega consigo um grande conhecimento acumulado em quase uma década como piloto de testes da McLaren.

Difícil afirmar se isso poderia se traduzir em velocidade na pista - provavelmente não - mas sua experiência pode realmente ajudar a Sauber a evoluir mais rápido.

Na briga com Kobayashi, seria uma presa fácil. Melhor para o japonês, que teria uma ótima chance de se firmar de vez na Fórmula 1.

Por fim, a USF1 continua com seu mistério, mas não consegue esconder totalmente o jogo.

Uma vaga está quase definida e deve ser do argentino José Maria Lopez.

Apesar de ter tido uma carreira apagada na Europa, Lopez bateu recordes no competitivo automobilismo de seu país e certamente tem capacidade para correr junto com os melhores na Fórmula 1.

Não é um nome que empolgue muito, mas Lopez está longe de ser ruim.

A outra vaga da USF1, por enquanto, é uma incógnita.

Há quem aposte que a equipe vai escolher um novato americano pouco conhecido - pode ser Alexander Rossi, Jonathan Summerton ou Graham Rahal, apenas para citar três nomes que já foram especulados.

Outros especulam que a USF1 vai contratar um veterano ainda ligado à Fórmula 1 para liderar a equipe. O austríaco Alexander Wurz seria o favorito, nesse caso.

Mas há ainda uma terceira e pouco comentada possibilidade.

É nela que o Blog aposta. E é para isso que torce.

Jacques Villeneuve.

Sim, o campeão de 1997 já está longe da Fórmula 1 há quase quatro anos e mal competiu nas últimas temporadas.

Mas, ao que parece, iniciou um rígido treinamento físico para voltar à forma e está bem confiante em retornar à Fórmula 1 em 2010.

Para a USF1, seria uma escolha certeira.

Villeneuve é muito rápido quando está motivado. E teve seus melhores anos na Fórmula 1 quando a categoria corria com pneus slicks - na época da introdução dos compostos sulcados, inclusive, o canadense foi o mais feroz crítico da mudança.

Além disso, em tempos de retorno de Schumacher, por que não promover a voltar de um outro campeão mundial?

A USF1 promete contratar um piloto de impacto.

E Villeneuve certamente se enquadra nesse perfil.

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Na dança das cadeiras da Fórmula 1, alguns pilotos vão ficar de pé quando a música parar de tocar.

Romain Grosjean, por exemplo, comprometeu seriamente sua carreira após sua péssima passagem pela Renault e vai ter que começar tudo de novo, talvez retornando à GP2.

Nelsinho Piquet caiu em desgraça e parece em dificuldades para arrumar emprego até mesmo nos Estados Unidos, onde o escândalo de Cingapura não repercutiu tanto.

Os veteranos Giancarlo Fisichella e Alexander Wurz não devem conseguir vaga de titular, mas têm boa chance de continuar perto da Fórmula 1 como piloto de testes ou reservas de luxo de alguma equipe.

Quem se deu mal mesmo neste período de pós-temporada foi o subestimado Nick Heidfeld, cuja carreira na Fórmula 1 parece perigosamente perto do fim.

Rápido e consistente, Heidfeld não é daqueles que dá espetáculo e conquista uma série de fãs, mas é sempre um nome confiável para levar o carro ao fim das corridas e marcar o máximo possível de pontos.

Estranho que ele não tenha sido escolhido para a vaga na Sauber - onde já correu entre 2001 e 2003 - ou mesmo para uma equipe estreante como a Virgin ou a Lotus.

Mesmo após superar em pontos o badalado Robert Kubica duas vezes em três temporadas, Heidfeld está perto do ponto final.

Seria uma grande injustiça.

Por mais que nunca tenha feito nada de espetacular na Fórmula 1, Heidfeld é um piloto que ainda tem o que render na categoria.

2 comentários:

Gabriel Pogetti Junqueira disse...

Heidfeld sem vaga na F1...
Realmente uma injustiça. Gosto de Kubica, porém deixar um piloto consistente e que claramente tem potencial de fora é complicado.
A F1 n é justa em alguns momentos.
"Quick" Nick merece um lugar...
Quem sabe na Renault.

Ron Groo disse...

Eu juro que pensava que das novatas a Campos era a mais organizada e sólida. Ledo engano.

Desculpe, mas to torcendo pra você errar o palpite e o Jaques Deusmelivre não voltar a F1.